O homem de 40 anos acabava de receber uma chamada de um hospital em Lisboa, informando que uma menina havia nascido e ele fora identificado como o pai.
O casal não tinha filhos biológicos e já haviam adotado três, pois sempre desejaram participar desse gesto de amor. Por isso, estavam reformando a casa para acomodar mais uma criança.
José era especialmente cuidadoso ao acolher uma criança em adoção, pois ele mesmo havia sido uma. Desde jovem, prometeu a si mesmo que ajudaria o máximo de crianças possível.
“Se eu puder ajudar esses pequenos a se tornarem a melhor versão de si mesmos, sentirei que fiz algo grandioso,” disse ele à sua esposa durante uma conversa sobre o assunto.
José também era pai de dois filhos adultos, fruto de seu casamento anterior com Isabel.
Conheceu a segunda esposa, Ana, dois anos depois, e após alguns meses de namoro, casaram-se. Tentaram ter filhos, mas não conseguiram.
Até que, um dia, a perseverança foi recompensada, e Ana engravidou.
Decidido, ele reservou um voo para Ana, que estava com oito meses de gravidez, para Lisboa, um lugar que ela sempre sonhara conhecer.
Porém, ao chegar em Lisboa, a mulher entrou em trabalho de parto e foi levada às pressas para o hospital.
Infelizmente, ela faleceu durante o parto, e disseram a José que, por ser um recém-nascido, era preciso que ele viajasse imediatamente.
Quando o avião aterrissou, ele alugou um carro e seguiu para o hospital onde sua esposa havia falecido.
Ao chegar, encontrou uma voluntária da UTI, uma senhora de 82 anos, viúva recentemente.
“O que aconteceu?” ele perguntou assim que entrou no escritório dela.
“Sente-se, Sr. Mendes,” ela disse com calma.
“Prefiro ficar em pé,” ele respondeu.
“Lamento pela sua perda, Sr. Mendes, mas sua esposa teve complicações ao dar à luz sua filha.”
Naquele momento, José chorou amargamente, e a Sra. Costa ficou em silêncio, permitindo que ele sofresse. Após alguns minutos, ela tossiu levemente e continuou.
“Entendo que veio buscar a criança, mas preciso ter certeza de que você tem condições de cuidar dela,” disse a Sra. Costa.
“Me chame se precisar de algo,” ela completou.
Quando chegou ao portão de embarque, a atendente se recusou a deixá-lo passar.
“Este é seu bebê, senhor?” ela perguntou.
“Claro que é,” ele respondeu.
“Desculpe, mas ela parece muito nova para viajar de avião. Quantos dias tem?”
“Ela tem quatro dias. Posso passar agora?” José disse, impaciente.
“Lamento, senhor, mas precisa apresentar a certidão de nascimento e esperar até que ela complete pelo menos sete dias para viajar,” a mulher respondeu com firmeza.
“O quê?” José questionou, irritado.
“Está dizendo que tenho que ficar aqui por dias? Não tenho família aqui, preciso voltar para casa hoje!”
“É política da companhia,” ela disse, virando-se para o próximo passageiro.
Ele já se preparava para passar a noite no aeroporto quando lembrou da bondosa Sra. Costa. Relutante em incomodá-la, mas sem opção, ligou para ela enquanto a noite se aproximava.
“Olá, Joana,” ele disse. “Preciso da sua ajuda.”
“Ainda há compaixão no mundo,” pensou consigo mesmo.
José ficou na casa da Sra. Costa por mais de uma semana antes de poder retornar ao Porto.
O pai não conseguia acreditar na generosidade dela e sempre a chamava de um anjo verdadeiro. Até sua filha parecia gostar da velha senhora, pois sorria ao ouvir sua voz.
Durante sua estadia, ele descobriu que a mulher tinha quatro filhos adultos, sete netos e três bisnetos.
Com a certidão em mãos, ele finalmente pôde voltar, mas manteve contato com aquela senhora.
No funeral dela, um advogado o procurou e revelou que a Sra. Costa havia deixado parte de sua herança para ele, assim como para seus próprios filhos.
Em homenagem à sua bondade, José doou o dinheiro para uma instituição de caridade que fundou junto com os quatro filhos dela.