Uma mãe solteira triste estava sentada sozinha num casamento, alvo das gozações de todos, quando um chefão da máfia se aproximou e disse: “Finge ser minha esposa e dança comigo”…
As risadas ao seu redor pareciam mais altas que a música.
Inês estava sentada no canto mais afastado do salão de festas, as mãos nervosamente entrelaçadas no colo, os olhos fixos na taça de champanhe intocada à sua frente. O vestido florido —emprestado, levemente desbotado— mal conseguia disfarçar o cansaço no seu olhar. Do outro lado, casais dançavam com elegância sob lustres de cristal, enquanto sussurros circulavam a sua mesa como abutres.
—É a mãe solteira, não é? —disse uma madrinha com desdém. —O marido a abandonou. Não admira que esteja sozinha —riram outras.
Inês engoliu em seco. Prometera a si mesma que não choraria, não hoje, não no casamento da prima. Mas quando viu a dança do pai com a filha, algo dentro dela se partiu. Pensou no filho, o pequeno Tiago, dormindo em casa com a ama. Pensou em todas as noites em que fingira estar bem.
Foi então que uma voz atrás dela, profunda e suave, disse: —Dança comigo.
Virou-se e deparou-se com um homem de fato preto impecável. Ombros largos, olhos escuros, uma aura que silenciou a sala. Reconheceu-o imediatamente: Rodrigo Mendes, conhecido como um poderoso empresário de Lisboa, embora os murmúrios o chamassem de outra coisa: um homem do submundo.
—Eu… nem sequer o conheço —gaguejou ela.
—Então vamos fingir —disse ele, baixinho, estendendo a mão. —Finge ser minha mulher. Só por esta dança.
O salão emudeceu enquanto ela se levantava hesitante, os dedos trémulos deslizando na mão firme dele. Murmúrios de espanto percorreram a sala quando Rodrigo a levou para o centro da pista. A banda mudou de música, uma melodia lenta e melancólica enchendo o ar.
Enquanto dançavam, ela percebeu algo estranho: as gozações tinham parado. Ninguém ousava sussurrar. Pela primeira vez em anos, Inês não se sentiu invisível. Sentiu-se vista. Protegida.
E quando Rodrigo se inclinou, a voz pouco mais que um sopro, ouviu palavras que mudariam tudo:
—Não olhes para trás. Apenas sorri.
A música terminou, mas o salão continuou em silêncio. Todos os olhos estavam neles: o homem misterioso e a mãe solteira que, de repente, parecia uma rainha. A mão dele repousava suavemente na sua cintura, mas o olhar percorria a multidão com precisão afiada.
Quando a canção acabou, ele guiou-a para fora da pista. —Lidaste bem —murmurou ele.
Inês pestanejou. —O que aconteceu?
—Digamos —respondeu Rodrigo, com um meio-sorriso— que precisava de uma distração.
Sentaram-se num canto, o coração dela ainda acelerado. Ele serviu-lhe uma bebida, cada movimento sereno, calculado. —Essas pessoas não vão importunar-te mais —disse, olhando para os murmúrios distantes. —Têm medo do que não entendem.
Ela estudou-o. O queixo forte, a leve cicatriz perto da orelha, a forma como parecia perigoso e gentil ao mesmo tempo. —Não precisavas de me ajudar.
—Não o fiz por ti —respondeu ele, baixinho. —Alguém nesta sala quis humilhar-me. Ajudaste-me a virar o jogo.
Inês franziu a testa. —Então fui só uma desculpa?
—Talvez —disse ele. Depois, o olhar suavizou-se. —Mas não esperava que me olhasses como olhaste. Como se eu fosse… humano.
Antes que pudesse responder, dois homens de fato escuro se aproximaram, sussurrando algo em italiano. A expressão de Rodrigo mudou. Levantou-se abruptamente. —Fica aqui —ordenou, o tom autoritário.
Mas a curiosidade de Inês falou mais alto. Seguiu-o lá fora, os saltos ecoando levemente no mármore.
Perto do estacionamento, viu Rodrigo a falar com outro homem, este com uma arma escondida no casaco. As palavras eram cortantes, tensas. O estranho afastou-se de carro, e Rodrigo virou-se, encontrando-a a olhar fixamente.
—Não devias ter visto isto —disse ele, aproximando-se.
—Eu não queria…
—És corajosa —interrompeu ele. —Ou tola.
Os olhos dele prenderam-se nos seus. —Agora que me viste, não podes simplesmente desaparecer da minha vida, Inês.
A brisa da noite trazia o cheiro de rosas e medo.
Pela primeira vez, Inês percebeu que se metera em algo muito maior do que ela.
Dois dias depois, Rodrigo apareceu à porta do seu pequeno apartamento. Tiago estava a construir torres de Lego na sala quando levantou os olhos e perguntou: —Mãe, é o teu amigo do casamento?
Rodrigo sorriu levemente. —Algo assim.
Inês ficou paralisada, indecisa. —Não devias estar aqui.
—Eu sei —disse ele, aproximando-se. —Mas não gosto de deixar coisas por terminar.
Ele reparou no papel de parede descolado, nos móveis em segunda mão, a força silenciosa nos olhos dela. —Lutaste sozinha durante muito tempo —disse. —Já não precisas.
Inês cruzou os braços. —Nem sequer me conheces.
—Sei o que é ser julgado pelo mundo —respondeu Rodrigo, baixinho. —Ser o vilão na história de todos.
O silêncio encheu a sala pequena. Tiago espreitou por detrás do sofá, segurando um carrinho de brincar. Rodrigo ajoelhou-se. —Boas rodas —disse. Tiago sorriu, um sorriso raro e genuíno que derreteu o coração de Inês.
Os dias tornaram-se semanas, e Rodrigo começou a aparecer mais vezes. Umas vezes trazia compras, outras consertava a fechadura avariada. E noutras, não dizia nada, apenas se sentava em silêncio enquanto Inês lia histórias a Tiago antes de dormir.
Os rumores giravam à sua volta (falavam de poder, perigo, sangue), mas nada disso importava quando estava na sua cozinha a ajudar Tiago com os trabalhos de casa. Não era o homem de quem sussurravam. Era apenas… Rodrigo.
Uma noite, enquanto a chuva caía forte lá fora, Inês perguntou finalmente: —Porquê eu?
Ele olhou para ela com uma calma intensidade. —Porque quando todos viraram o rosto, tu não viraste.
Ela não sabia se algum dia poderia confiar nele por completo, mas, pela primeira vez em anos, não sentia medo do futuro. A mulher de quem outrora se riam e tinham pena tinha reencontrado a sua força—não num conto de fadas, mas em algo real: cru, imperfeito e vivo.
Enquanto estavam à janela a olhar a chuva, Rodrigo sussurrou: —Afinal, talvez fingir não tenha sido uma má ideia.
Inês sorriu. —Talvez não.
O que farias se um homem como Rodrigo te pedisse para fingires ser sua esposa por uma noite? Dirias que sim… ou afastar-te-ias? Conta-me nos comentários, adoraria saber a tua resposta.





