Sairam para um jantar romântico… mas quando o homem viu a empregada de mesa, o coração parou. Era a sua ex-mulher, a mulher que deixara para trás, sem nunca saber os sacrifícios que ela fizera para que ele se tornasse no homem bem-sucedido que era hoje.
Rui Almeida entrou no elegante restaurante iluminado por velas com a sua nova namorada, Leonor. Trajava um fato impecavelmente ajustado, e ela agarrava-lhe o braço, com o seu vestido prateado a brilhar sob a luz suave.
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—”Rui, este sítio é perfeito”, disse Leonor com um sorriso enquanto os levavam à mesa reservada.
Rui olhou em volta com orgulho. Este era o tipo de lugar que agora podia frequentar sem hesitar—um dos restaurantes mais exclusivos da cidade.
Mas ao sentar-se, o seu olhar congelou ao avistar alguém do outro lado da sala. Uma empregada, com um simples avental bege, movia-se em silêncio entre as mesas, equilibrando pratos com destreza. O seu rosto estava ligeiramente voltado para baixo, mas quando ergueu a cabeça por um instante, a respiração de Rui parou.
Não… não podia ser.
—”Rui? Estás bem?”, perguntou Leonor, notando a sua rigidez repentina.
Ele piscou os olhos, forçando um sorriso.
—”Sim, só… pensei ter visto alguém que conheço.”
Mas era ela. Ana.
A sua ex-mulher. A mulher de quem se divorciara cinco anos antes, quando decidiu seguir sonhos maiores—sonhos que, de facto, se tornaram em milhões, carros de luxo e apartamentos em arranha-céus.
Ana estava mais magra agora, com o cabelo apanhado atrás. Não o vira—ou talvez fingira não o ver. Limitou-se a deixar pratos numa mesa próxima, acenou educadamente aos clientes e afastou-se.
Leonor falava sobre a sua próxima sessão de fotos, sem perceber que Rui não a escutava. A sua mente acelerava.
Por que está ela a trabalhar aqui? Devia estar… noutro lugar. Sempre dizia que queria dar aulas. Era inteligente. Tinha potencial.
Mas ao observá-la a anotar um pedido noutra mesa, notou algo na sua postura: um cansaço silencioso—o tipo que não vem apenas de um turno longo, mas de anos a carregar um peso pesado.
Rui não conseguia desviar o olhar. O seu garfo permanecia intocado enquanto Leonor ria baixinho da sua própria piada. Ele assentia distraído, a sua mente completamente noutro lugar. Cada passo de Ana no chão de madeira polida sentia-se como uma punhalada de memória, recordando-lhe as noites em que ela trabalhava em dois empregos para que ele pudesse terminar a escola de negócios, as manhãs em que ela saltava o pequeno-almoço para que ele pudesse comer. Lembrou-se do envelope que ela lhe deslizara uma vez na mão—as suas poupanças das aulas particulares, dizendo-lhe com suavidade: “Vai e persegue o teu sonho. Eu fico bem.”
E depois ele deixara-a.
A voz de Leonor desaparecia no fundo enquanto os pensamentos de Rui ardiam. Notou que as mãos de Ana tremiam ligeiramente enquanto carregava uma bandeja de copos de vinho. O seu sorriso para os clientes era educado, mas cansado—não o radiante que ele conhecera. E então, quando uma criança numa mesa próxima deixou cair uma colher, Ana agachou-se para a apanhar e sorriu-lhe com ternura—tão maternal—que Rui sentiu o peito apertar.
Ela criou um filho? Sozinha?
A sua mente acelerava, a culpa devorava-o. Ela dera-lhe tudo, e ele partira assim que o sucesso bateu à porta.
“Rui”, disse Leonor novamente, desta vez mais firme. “Estás a comportar-te de forma estranha. Conheces… aquela mulher?”
Ele engoliu em seco. “É… alguém que conheci há muito tempo.”
Antes que Leonor pudesse insistir, Ana virou-se, os seus olhos encontrando finalmente os dele. Por um breve instante, o tempo pareceu parar. Não houve raiva, nem palavras—apenas o reconhecimento silencioso de um passado que nunca morrera completamente. Os seus lábios apertaram-se ligeiramente, depois desviou o olhar e continuou o trabalho como se nada tivesse acontecido.
Mas o mundo de Rui mudara. O tilintar dos copos, a suave música de violino, a conversa de Leonor—tudo se desvanecia. A única coisa que conseguia ver era as costas cansadas de Ana enquanto ela desaparecia na cozinha.
Levantou-se de repente.
“Rui?”, exclamou Leonor, surpreendida.
“Preciso… de um momento.” Empurrou a cadeira para trás e dirigiu-se às portas da cozinha, com o coração a bater mais forte do que a orquestra que tocava no canto. Não sabia o que diria, ou se ela sequer o ouviria.
Mas sabia uma coisa: naquela noite, durante um jantar à luz de velas pensado para romance, enfrentara o custo do seu sucesso—e a mulher que o pagara.
E desta vez, não podia desviar o olhar.





