Todas as noites, um cão negro rosnava para o bebê, até que o pai descobriu o terrível segredo debaixo da cama.6 min de lectura

Compartir:

Desde o dia em que levaram o bebê para casa, o cachorro preto chamado Tinta virou um guardião constante do quarto. No começo, João e a mulher, Catarina, acharam bom sinal: o cão estava protegendo o bebê, vigiando a porta. Mas depois de três noites, a tranquilidade deles acabou.

Na quarta noite, exatamente às 2h13, Tinta ficou rijo, o pelo arrepiado como espinhos, rosnando para o berço ao lado da cama. Não latiu, nem avançou, só soltou um rosnado contínuo, como se algo tentasse calá-lo das sombras.

João acendeu a luz e foi acalmar o bebê. A pequena Sofia dormia tranquila, os lábios tremendo como se mamasse, sem chorar. Mas os olhos de Tinta estavam fixos na cama. Ele se agachou, esticou o pescoço, enfiou o focinho no vão escuro e empoeirado e rosnou de novo. João se ajoelhou, acendeu a lanterna do celular e viu só algumas caixas, fraldas e uma sombra espessa como um buraco sem fim.

Na quinta noite, aconteceu o mesmo às 2h13. Na sexta, Catarina acordou sobressaltada com um barulho de arranhões, lentos, deliberados, como unhas arrastando na madeira. “Devem ser ratos,” disse, a voz trêmula. João aproximou o berço do armário e pôs uma ratoeira no canto. Mesmo assim, Tinta encarava a cama, soltando grunhidos curtos sempre que a bebê se mexia.

Na sétima noite, João decidiu não dormir.
Sentou na cama no escuro, só com a luz do corredor entrando como um fio de ouro no quarto. O celular estava pronto para gravar.

Às 1h58, uma rajada entrou pela janela entreaberta, trazendo o cheiro úmido do jardim.

Às 2h10, a casa parecia vazia, sem vida.

Às 2h13, Tinta pulou, mas não rosnou de imediato. Olhou para João, pressionou o focinho contra a mão dele, como se implorasse. Depois avançou, cauteloso, e apontou o nariz para debaixo da cama. O rosnado foi profundo e longo, como se impedisse algo de sair.

João ergueu a luz do celular. Naquele breve clarão, viu movimento. Não era um rato. Era uma mão, esverdeada, suja de terra, se enrolando como uma aranha. A luz tremulou com suas mãos trêmulas. Ele caiu para trás, batendo no armário. Catarina se sentou, perguntando frenética. Sofia continuava dormindo, os lábios úmidos de leite.

João pegou a filha, colocou-a atrás de si e agarrou um taco de beisebol velho. Tinta atacou debaixo da cama, os rosnados virando latidos furiosos, as unhas arranhando. Da escuridão veio um som gelado de algo se arrastando, depois silêncio. As luzes oscilaram. Algo recuou, rápido demais, deixando um rastro de pó preto.

Catarina soluçou, pedindo para chamar a polícia. João discou com mãos trêmulas. Em dez minutos, dois agentes chegaram. Um se abaixou, iluminando enquanto movia as caixas. Tinta bloqueou o berço, mostrando os dentes. “Acalma esse cão,” o agente disse. “Deixa eu ver…” Debaixo da cama não tinha nada. Só pó revirado e marcas de arranhões no assoalho.

A lanterna parou numa rachadura na parede, perto da cabeceira: a madeira estava cortada o suficiente para uma mão passar. Ele bateu—foi um som oco. “Tem um vão aqui. Esta casa passou por reformas?”

João negou. Nesse momento, Sofia gemeu. Tinta olhou fixo para a rachadura e rosnou. Da escuridão, saiu um sussurro rouco: “Shhh… não acorde ele…”

Ninguém na casa dormiu depois daquele sussurro.
O agente mais novo, Duarte, chamou reforços. Enquanto esperava, arrancou o rodapé. Estranhamente, os pregos eram novos, brilhando na madeira velha. “Alguém mexeu aqui há um ou dois meses,” disse. João engoliu seco. “Comprei a casa de um casal de idosos há três meses. Eles disseram que só pintaram a sala e arrumaram o teto, não o quarto.”

Com um pé-de-cabra, Duarte arrancou a madeira. Atrás, um vão escuro como a boca de uma caverna. O cheiro úmido se misturava a outro: leite azedo e talco. Tinta puxou João para trás, rosnando. Catarina agarrou Sofia, o coração disparado.

Duarte iluminou o espaço.

“Tem alguém aí?” Silêncio. Mas quando a luz cruzou, todos viram: objetos de bebê (uma chupeta, uma colher, um pano amassado) e dezenas de riscos na madeira, como uma rede.

Quando a equipe de reforço chegou, colocaram uma câmera e puxaram um pacote de pano sujo. Dentro, um caderno gasto com letra feminina trêmula:

“Dia 1: Ele dorme aqui. Ouço a respiração.”
“Dia 7: O cão sabe. Fica vigiando, mas não morde.”
“Dia 19: Preciso ser quieta. Só quero tocar a bochecha dela, ouvir o choro mais perto. Não acorde ninguém.”

As anotações eram curtas, frenéticas, como escritas no escuro.
“Quem morava aqui antes?” um agente perguntou. João lembrou vagamente: no dia da entrega, o casal de idosos estava com uma jovem. Ela mantinha a cabeça baixa, o cabelo cobrindo metade do rosto. A idosa dissera: “Ela está preocupada, não fala muito.” Na hora, não deram importância.

A câmera mostrou mais: o vão percorria a parede, formando um túnel estreito. Num canto, um ninho improvisado: um cobertor fino, uma fronha e latas de leite vazias. No chão, um risco novo: “Dia 27: 2h13. Respirar mais forte.”

2h13: o horário em que Sofia acordava para mamar. Alguém dentro da parede sabia da rotina dela.

“Não é um fantasma,” Duarte disse sombriamente. “É uma pessoa.”
Investigarando mais, encontraram trincos quebrados e pegadas sujas no forro. Alguém entrava e saía até pouco tempo.

Ao amanhecer, Duarte aconselhou: “Tranquem o quarto hoje. Deixem o cão dentro com um de nós. Vamos ver se ela volta.”

Naquela noite, às 2h13, o pano cobrindo a rachadura se moveu. Uma mão fina, suja de terra, apareceu. Depois um rosto magro: olhos fundos, cabelos emaranhados, lábios rachados. Mas o mais perturbador era o olhar fixo no berço, como sede em forma humana.

Ela sussurrou de novo: “Shhh… não acorde ela… Só quero ver…”
Era a jovem, Vera, sobrinha dos antigos donos. Ela perdera o bebê no final da gravidez, entrara em depressão profunda e, de algum modo, voltara para aquela casa. Por quase um mês, vivera nas paredes, agarrada ao som da respiração de uma criança como o último fio de sanidade.

Os agentes a convenceram a sair com cuidado. Antes de ir, Vera olhou uma última vez para o berço e murmurou: “Shhh…”

Depois, os vãos foram selados e oJoão e Catarina nunca mais esqueceram aquele sussurro, mas, com Tinta deitado ao lado do berço todas as noites, finalmente puderam dormir em paz, sabendo que alguns guardiões não precisam de palavras para proteger o que amam.

Leave a Comment