Todas as Noites, o Cão Negro Rosnava para o Bebê — Até Que o Pai Descobriu o Terrível Segredo Escondido6 min de lectura

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Desde o dia em que trouxeram o bebê para casa, o cão preto chamado Nero transformou-se num guardião constante do quarto. No início, Rui e a esposa pensaram ser um bom sinal: o animal protegia o bebê, vigiando a porta. Mas após apenas três noites, a tranquilidade desfez-se.

Na quarta noite, às 2h13 da madrugada, Nero ergueu-se de quatro patas, o pelo arrepiado como espinhos, rosnando para o berço ao lado da cama. Não latiu nem atacou, apenas emitiu um rosnado longo e rouco, como se algo sufocasse sua voz das sombras.

Rui acendeu o candeeiro e tentou acalmá-lo. O bebê dormia tranquilamente, os lábios contraídos como se mamassem, sem chorar. Mas os olhos de Nero fixavam-se sob a cama. O cão baixou-se, esticou o focinho para o espaço empoeirado e escuro e rosnou novamente. Rui ajoelhou-se, acendeu a lanterna do telemóvel e viu apenas algumas caixas, fraldas de reserva e uma sombra espessa acumulada como um poço sem fundo.

Na quinta noite, repetiu-se às 2h13. Na sexta, a esposa de Rui, Inês, acordou assustada ao ouvir um som de arranhões, lento e deliberado, como unhas a arrastar-se na madeira. “Devem ser ratos”, disse, com voz trémula. Rui aproximou o berço do armário e pôs uma ratoeira no canto. Mesmo assim, Nero continuou a olhar fixamente para a estrutura da cama, soltando rosnados curtos sempre que o bebê se mexia.

Na sétima noite, Rui decidiu não dormir. Sentou-se na beira da cama com as luzes apagadas, deixando apenas a luz do corredor a lançar um filete dourado no quarto. O telemóvel estava pronto para gravar.

À 1h58, uma rajada de vento varreu a janela entreaberta, trazendo o cheiro húmido do jardim.
Às 2h10, a casa parecia oca, sem alma.
Às 2h13, Nero levantou-se de um salto, não rosnando imediatamente, mas olhando para Rui, pressionando o focinho contra a sua mão, suplicando com os olhos. Depois, rastejou, como se estivesse a caçar, e apontou o nariz para debaixo da cama. Seu rosnado rebentou, profundo e prolongado, impedindo algo de sair.

Rui apontou a lanterna. No breve clarão, viu movimento. Não era um rato. Uma mão esverdeada e pálida, manchada de sujidade, enrolou-se como uma aranha. O feixe de luz tremulou quando a sua mão tremeu. Rui recuou, batendo no armário. Inês sentou-se, fazendo perguntas em pânico. O bebê continuou a dormir, os lábios húmidos de leite.

Rui agarrou o filho, protegeu-o atrás das costas e pegou num antigo taco de basebol. Nero atirou-se debaixo da cama, os rosnados transformando-se em latidos furiosos, as garras a arranhar. Da escuridão veio um som de arranhões gelados, depois silêncio. As luzes oscilaram. Algo retirou-se para o interior, rápido, deixando um rasto de pó negro.

Inês soluçou, pedindo que chamasse a polícia. As mãos trémulas de Rui discaram. Em dez minutos, chegaram dois agentes. Um agachou-se, iluminando com a lanterna enquanto afastava caixas. Nero bloqueou o berço, mostrando os dentes. “Calma”, disse o agente. “Deixe-me ver…” Debaixo da cama estava vazio. Apenas pó revirado e marcas de garras serpeando pelo soalho.

A luz do agente parou numa fenda na parede, junto à cabeceira: a madeira fora cortada o suficiente para uma mão passar. Bateu, soou oco. “Há uma cavidade. Esta casa teve obras?”

Rui negou. Nesse momento, o bebê resmungou. Os olhos de Nero brilharam; virou a cabeça para a fissura e rosnou. Da escuridão, um sussurro áspero escapou: “Shhh… não o acordes…”

Ninguém na casa dormiu depois daquele sussurro.

O agente mais novo, Duarte, pediu reforços. Enquanto esperava, arrancou o rodapé na base da parede. Estranhamente, os pregos eram novos, brilhantes contra a madeira velha e manchada. “Alguém mexeu aqui há um ou dois meses”, disse. A garganta de Rui secou. Comprou a casa a um casal de idosos três meses antes. Disseram que só tinham pintado a sala e arranjado o telhado, não o quarto.

Com um pé-de-cabra, Duarte arrancou a madeira. Atrás havia uma cavidade negra como a garganta de uma gruta. Um cheiro húmido misturava-se com outro: leite azedo e talco. Nero puxou Rui para trás, rosnando. Inês agarrou o bebê, o coração acelerado. Duarte apontou a luz.

“Tem alguém aí?” Silêncio. Mas quando o feixe atravessou, todos viram: objetos de bebê (uma chupeta, uma colher de plástico, um pano amarrotado) e dezenas de marcas de contagem riscadas na madeira, entrelaçadas como uma teia.

Quando chegou a equipa de apoio, introduziram uma pequena câmara e retiraram um pacote de pano sujo. Dentro havia um caderno grosso e gasto, com letra feminina trémula:
“Dia 1: Dorme aqui. Ouço a sua respiração.”
“Dia 7: O cão sabe. Faz guarda, mas não morde.”
“Dia 19: Tenho de estar calada. Só quero tocar-lhe na face, ouvir o seu choro mais perto. Não acordes ninguém.”

As entradas eram curtas, frenéticas, como rabiscadas no escuro.

“Quem vivia aqui antes?”, perguntou um agente. Rui lembrava-se vagamente: uma jovem acompanhara os antigos donos no dia da entrega. Mantivera a cabeça baixa, o cabelo tapando metade do rosto. A idosa dissera: “Ela está preocupada, fala pouco.” Na altura, não deram importância.

A câmara revelou mais: a cavidade estendia-se ao longo da parede, formando um túnel estreito. Num canto, um ninho improvisado: manta fina, fronha, latas de leite vazias. No chão, um risco recente: “Dia 27: 2h13. Respira mais alto.”

2h13: a hora em que o bebê acordava para mamar. De algum modo, a rotina do filho fora rastreada… de dentro das paredes.

“Não é um fantasma”, disse Duarte sombriamente. “É uma pessoa.” Investigações revelaram fechaduras partidas e marcas sujas no telhado traseiro. Alguém entrara e saíra até há pouco.

Ao amanhecer, Duarte aconselhou: “Fechem o quarto esta noite. Deixem o cão lá dentro com um de nós. Vamos ver se ela volta.”

Naquela noite, às 2h13, o pano tapando a fissura moveu-se. Uma mão magra e suja emergiu. Seguiu-se um rosto macilento: olhos fundos, cabelo emaranhado, lábios gretados. Mas o que mais impressionou foi o seu olhar fixo no berço, como se fosse a sede em forma humana.

Ela sussurrou: “Shhh… não o acordes… Só quero vê-lo…”

Era a jovem, Vera,Os agentes a seguraram com cuidado, e enquanto era levada embora, Vera olhou uma última vez para o berço e murmurou, com lágrimas nos olhos: “Ele tem o mesmo cheiro do meu bebê”.

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