Naquela tarde, o sol poente pintava a varanda da mansão com tons dourados, mas a paz foi quebrada pelo riso cortante de Joana. Ela apontou com desdém para Maria, a empregada doméstica, que carregava um pesado saco de lixo nos ombros. “O teu valor cabe nesse saco,” cuspiu, com um sorriso cruel. O ar parou, como se o mundo tivesse prendido a respiração. Maria, de olhos marejados, cerrou os lábios e continuou a caminhar em silêncio. Anos de humilhações, mas aquelas palavras perfuraram como nenhuma outra.
Joana, vestida com um vestido de marca, cruzou os braços e soltou uma gargalhada forçada, insistindo no seu poder. O que ela não via era o olhar fixo de Pedro, seu namorado milionário, por trás dela. Ele estava petrificado, os dedos a tremerem de raiva. Via em Maria não uma criada, mas uma mulher esmagada pela arrogância daquela que ele pensava amar.
“Amor, olha como ela se arrasta com o lixo,” Joana virou-se para Pedro, esperando cumplicidade. “É patético. Não serve para nada além de sujar esta casa.” Mas Pedro não sorriu. Ficou imóvel, a testa franzida, enquanto os convivos se remexiam desconfortáveis. Maria deixou o saco no chão e ergueu o rosto, com uma voz suave mas firme:
“Minha senhora, talvez não valha nada para si, mas todos os dias dou o meu melhor para que esta casa brilhe. Não mereço ser pisada.” As palavras cortaram como uma faca. Joana estremeceu, o fastio a substituir o gozo.
“Tu respondes-me?” Joana bufou, a voz a subir de tom. “És uma criada! Estás aqui para servir, não para falar. Conhece o teu lugar, porque nesta casa quem manda sou eu!” O veneno na sua voz ecoou, e alguns convidados baixaram os olhos, envergonhados.
Maria manteve-se firme, embora por dentro se despedaçasse. Foi então que Pedro avançou. Cada palavra de Joana o afastava mais dela. E ali, vendo a dignidade ferida de Maria, percebeu uma verdade que já não podia ignorar.





