Num dia comum na estrada entre Lisboa e Porto, um autocarro cheio de turistas seguia em direção às belas paisagens do norte. Os passageiros, animados pela viagem, cantavam fados improvisados e compartilhavam histórias, enquanto o motorista, um homem calmo chamado Rui Mendes, conduzia com cuidado pela estrada serpenteante.
O sol brilhava sobre os campos verdejantes quando, de repente, como surgida de um sonho, uma égua castanha e reluzente apareceu ao lado do autocarro. Seu trotar era elegante, e seus olhos doces pareciam conter um segredo. Os passageiros, em vez de se assustarem, riram e apontaram suas câmeras, achando a cena encantadora.
Mas algo era estranho. A égua relinchava, como se estivesse a avisar, a suplicar. Rui, sentindo um frio na espinha, reduziu a velocidade até parar por completo. Ao abrir a porta, a égua parou junto ao autocarro e olhou fixamente para ele, como se dissesse: “Não sigam”.
“O que queres, minha linda?” murmurou Rui, tentando afastá-la. Mas a égua recusou-se a sair, bloqueando a porta com seu corpo e sacudindo a cabeça com insistência. Foi então que o ar ficou pesado, e os sorrisos nos rostos dos passageiros desapareceram.
Segundos depois, um estrondo cortou o silêncio. Ao longe, uma nuvem de fumo ergueu-se no horizonte. A estrada à frente desmoronara—uma ponte sobre o rio Douro havia colapsado, esfacelada por uma explosão num armazém abandonado.
Se o autocarro não tivesse parado, estariam lá.
A égua permaneceu imóvel, tranquila, como se soubesse que sua missão terminara. Ninguém soube explicar como um animal pressentira o perigo—se foi instinto, destino ou milagre. Mas todos ali sabiam: sem aquela égua, não haveria história para contar.





