Era um dia comum na estrada que ligava Lisboa ao Porto. O autocarro, cheio de turistas ansiosos, seguia em direção aos famosos castelos do norte. Os passageiros, animados pela viagem, cantavam fados, riam e trocavam histórias, como só os portugueses sabem fazer.
O ambiente era leve, quase festivo. Ao volante, o motorista, um homem experiente chamado João Silva, conduzia com a calma típica de quem já conhecia cada curva daquelas terras.
A estrada serpenteava entre densos pinhais, e tudo parecia tranquilo… até ao momento em que, de repente, uma égua surgiu entre as árvores. Negra, lustrosa, com uma crina espessa e olhos doces — claramente não era selvagem. Corria ao lado do autocarro, mantendo o ritmo com uma facilidade assustadora.
Os passageiros, inicialmente surpreendidos, começaram a sacar os telemóveis. Uns riam, outros gritavam: “Grava, grava!”, pensando tratar-se apenas de um momento pitoresco da viagem.
Mas havia algo estranho no comportamento do animal. A égua relinchava, como se estivesse a avisar, a suplicar. O motorista, sentindo que algo não batia certo, reduziu a velocidade e acabou por parar o autocarro. Ao abrir a porta, a égua parou junto ao veículo. João desceu, aproximou-se dela e examinou-a: sem feridas, aparentemente saudável.
“O que queres, então?” — murmurou ele, já a virar-se para regressar ao lugar do condutor.
Porém, a égua bloqueou-lhe o caminho, colocando-se diante da porta e sacudindo a cabeça, como se dissesse: “Não sigam!” Foi então que todos, antes divertidos, sentiram um arrepio de medo.
Minutos depois, compreenderam porquê.
Um silêncio pesou no ar, apenas quebrado pelo sussurro do vento nos pinheiros… e então, ao longe, um estrondo ensurdecedor. Uma nuvem de fumo ergueu-se sobre as copas das árvores. A estrada à frente desaparecera — a ponte que atravessava o vale desmoronara-se, destruída pela explosão.
O autocarro ficou em silêncio. Todos perceberam: se não tivessem parado, estariam naquele exato momento sobre a ponte…
Mais tarde, soube-se que uma fuga de gás num armazém próximo causara a detonação, e os destroços atingiram a estrutura da ponte. Uma cadeia de acasos, um descuido, um destino cruel.
A égua permaneceu ali, calma. Como se soubesse que o perigo já passara.
Ninguém sabe ao certo como os animais pressentem a tragédia. Foi instinto? Foi sorte? Nenhum dos passageiros teve resposta. Mas todos sabiam uma coisa: sem aquela égua, não estariam vivos para contar a história.





