Pai Impotente: O Segredo Sombrio que Abalou Nossa Vida5 min de lectura

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PARTE 1: A CHAMADA QUE MUDOU TUDO

Achas que conheces o medo? Não conheces. Não verdadeiramente. Medo não é um filme de terror. Não é um susto de saltar da cadeira. Medo é o som de um telefone fixo a tocar numa casa em silêncio absoluto às 3h17 da manhã.

Vivo num subúrbio tranquilo nos arredores de Lisboa. O tipo de sítio onde as pessoas deixam as portas das garagens abertas aos sábados e o maior escândalo é quem não cortou a relva. A minha filha, Leonor, tem dezanove anos. É estudante do segundo ano na Universidade de Lisboa, no curso de Biologia, o tipo de miúda que pede desculpa à mesa se esbarrar nela. Nunca se meteu em problemas. Nem uma vez. Nem sequer passa dos limites de velocidade.

Por isso, quando o telefone tocou, cortando o silêncio do meu quarto como uma sirene, o meu coração não perdeu um batimento—parou por completo. Tentei agarrar o auscultador, com as mãos a tremer antes mesmo de tocar no plástico.

“Está?” A minha voz saiu rouca, grossa de sono e adrenalina instantânea.

“Pai?”

Era um gemido. Um som quebrado, aterrorizado, que vou ouvir nos meus pesadelos até ao dia em que morrer.

“Leonor? Meu amor, o que se passa? Onde estás?” Sentei-me na cama, atirando os cobertores para o lado, os pés a bater no chão de madeira fria.

“Eu não fiz nada, Pai. Juro por Deus, não sabia que aquilo estava lá. Por favor, tens de acreditar em mim.” Estava a hiperventilar, as palavras a saírem em respirações cortadas.

“Leonor, acalma-te. Onde estás?”

“Estou… estou na esquadra. A da 4.ª Divisão. Prenderam-me, Pai. Estão a falar de crimes graves. Disseram… disseram que posso não voltar para casa durante muito tempo.”

O sangue desapareceu-me da cara. Senti-me tonto. “Estou a caminho. Não digas mais nada. Ouviste? Não digas uma única palavra a ninguém até eu chegar aí. Já saio.”

Desliguei e vesti roupa por cima do pijama. Apanhei as chaves e a carteira, as mãos a tremer tanto que as deixei cair duas vezes. A condução até à esquadra foi um borrão de semáforos vermelhos ignorados e o ponteiro do velocímetro a aproximar-se dos 140.

Quando entrei na esquadra, as luzes fluorescentes zumbiam com um som esterilizado, de dar dor de cabeça. O sargento da receção olhou para mim, entediado.

“Estou aqui pela Leonor Carvalho,” gritei, batendo com a minha carta de condução no balcão. “É a minha filha.”

Ele digitou devagar, dolorosamente devagar. “Carvalho… certo. Em processamento. Ainda não pode vê-la.”

“Quero saber por que é que ela está aqui,” exigi, tentando manter a voz firme, mas falhando. “Ela falou em crimes graves? A minha filha está no quadro de honra. Faz voluntariado no canil. Vocês cometeram um erro.”

Uma porta abriu-se com um zumbido atrás do balcão, e um detetive saiu. Parecia cansado, com um fato amarrotado que cheirava a tabaco velho.

“Sr. Carvalho?” perguntou. “Sou o Detetive Silva. Porque não vem comigo para aqui atrás.”

Não era um pedido.

Segui-o para uma pequena sala de interrogatório. Sem espelho de duas faces, apenas uma mesa de metal e três cadeiras.

“Sentemo-nos,” disse Silva.

“Quero ver a minha filha.”

“Vai vê-la. Mas primeiro, precisamos de falar sobre o que encontrámos no porta-bagagens do seu Honda Civic de 2018 durante uma paragem de trânsito de rotina.”

“Ela tem uma luz traseira partida,” disse rapidamente. “Ia arranjá-la este fim de semana. Foi por isso que a pararam?”

“Parámo-la pela luz, sim,” confirmou Silva, inclinando-se para a frente, os olhos fixos nos meus. “Mas o agente sentiu um cheiro. Pediu para revistar o carro. Ela consentiu porque, segundo diz, não tinha nada a esconder.”

“E não tem!” gritei.

Silva pegou num dossiê e tirou uma foto. Deslizou-a pela mesa.

Olhei para baixo. O meu cérebro não conseguia processar. Parecia um saco de ginástica. Aberto. Dentro, havia pacotes. Embrulhados, bem apertados.

“É… droga?” sussurrei.

“Dois quilos de fentanil,” disse Silva, sem expressão. “E uma arma com o número de série limado. E trinta mil euros em dinheiro.”

A sala girou. Agarrei-me à mesa para não cair da cadeira. “Não. Isso é impossível. Alguém pôs aquilo lá. A Leonor… ela nem toma um Ben-U-Ron sem febre. É uma boa miúda, Detetive. Tem de acreditar em mim.”

“Toda a gente é uma boa pessoa até ser apanhada, Sr. Carvalho,” disse Silva, sem qualquer empatia. “Com essa quantidade, estão a falar de tráfico. Penas mínimas obrigatórias. Ela enfrenta vinte anos, fácil.”

“Com quem é que ela estava?” perguntei, a mente a trabalhar rapidamente.

“Estava sozinha no carro.”

“Quem teve acesso ao carro?” insisti.

“Ela diz que só ela,” respondeu Silva. “Mas não para de chorar e falar no namorado. O Tiago.”

Tiago.

Tiago, o desaparecido, o menino de ouro. Era filho de um magnata imobiliário local, o Ricardo Almeida. Os Almeida eram donos de metade da cidade. O Tiago era polido, educado, conduzia um BMW e sempre me tratava por “Senhor”. Eu gostava dele.

“Ela esteve em casa dele hoje à noite,” disse, a perceção a atingir-me como um soco físico. “Disse-me que ia estudar para casa do Tiago.”

“Sabemos quem é o Tiago Almeida,” suspirou Silva, esfregando as têmporas. “Ligámos-lhe. Disse que a Leonor saiu de casa dele às 22h. Disse que ela parecia agitada. Afirma que não a viu desde então.”

“Ele está a mentir,” disse, levantando-me. “Foi ele quem pôs aquele saco no carro dela. Por que razão é que a minha filha andaria a conduzir com drogas de cartel e uma arma? Pense nisso!”

“Sr. Carvalho, a menos que tenha provas, o carro é dela, a posse é dela. A lei é clara.”

Exigi vê-la. Finalmente, deixaram.

Ver a Leonor naquele fato cor-de-laranja, os olhos inchados de tanto chorar, partiu algFoi nesse momento que percebi que a justiça verdadeira não vem dos tribunais, mas da coragem de um pai proteger a sua filha a qualquer custo, e nunca mais olhei para trás.

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