O Militar Chegou de Surpresa e Encontrou a Irmã Machucada5 min de lectura

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Tomás Miranda, um sargento reformado do exército com cicatrizes invisíveis de anos no campo, não imaginava regressar tão cedo à sua terra natal. A sua vida, agora mais calma, foi abalada por uma chamada da mãe. A voz dela, normalmente calorosa, estava carregada de silêncios que cortavam como facas e respostas evasivas que lhe apertaram o peito. Algo não estava bem. Sem pensar duas vezes, sem avisar, comprou o primeiro bilhete de avião disponível. A urgência consumia-o, um eco das missões onde cada segundo podia significar a diferença entre a vida e a morte.

Ao chegar à casa da irmã, Joana, o mundo desabou sobre ele. A porta abriu-se e lá estava Marco, o cunhado, com um sorriso arrogante que exalava controlo. Mas foi Joana, ao fundo da sala, quem lhe partiu o coração. O rosto dela, coberto por camadas de maquilhagem mal aplicada, não escondia os hematomas frescos que marcavam a pele como um mapa de dor. Os olhos de Tomás, treinados para detetar ameaças, incendiaram-se de raiva contida.

“O que aconteceu ao teu rosto, Joana?”, perguntou, a voz a tremer entre a fúria e o medo, sem sequer olhar para Marco. “Caí das escadas”, sussurrou ela, os olhos fixos no chão, como se olhá-lo nos olhos fosse trair um segredo mortal. Tomás sentiu um vazio no estômago. Não acreditou numa palavra. Marco, a servir-se de um café com uma calma insultuosa, soltou uma risada seca. “A falta de jeito é de família, não é, cunhado?” A provocação era um desafio, mas Tomás não caiu nela.

No seu interior, uma promessa ardia. Não sairia dali sem arrancar a verdade daquela casa envenenada. O ambiente era sufocante, como se o próprio ar estivesse carregado de medo. Marco movia-se com a segurança de um tirano, controlando cada gesto de Joana, corrigindo-lhe a maneira de cortar o pão, de dobrar um guardanapo, num tom que pretendia ser leve, mas cheirava a crueldade. Tomás observava tudo com a precisão de um soldado, cada movimento gravado na mente.

Joana, a irmã vibrante que outrora enchia a casa de risos e sonhava ser costureira, estava quebrada. Ombros curvados, mãos trémulas, olhos esquivos. Assustava-se quando Marco levantava a voz ou se aproximava demasiado. Não tinha telemóvel, nem um cêntimo na carteira, nem um pingo de liberdade na própria casa. Os sinais eram um grito silencioso, e Tomás, com o coração apertado, jurou não ignorá-los. Naquela tarde, procurou um momento a sós com ela.

Encontrou-a na cozinha, a olhar para uma chávena vazia. “Joana, fala comigo”, suplicou, a voz baixa mas urgente. Ela abanou a cabeça, o medo estampado no rosto. “Não posso, Tomás. Se ele descobre, piora. Não sabes como ele fica quando se zanga”, sussurrou, a voz a quebrar como vidro. Ele respirou fundo, lutando contra a raiva que lhe queimava o peito. “E tu sabes que não há nada que me pare se alguém te magoar”, disse com uma calma que escondia um vulcão.

Os olhos de Joana encheram-se de lágrimas, e num fio de voz suplicou: “Fica, por favor, só mais uns dias.” Aquele pedido, tão frágil e desesperado, foi um tiro na alma de Tomás. Quando Marco voltou para a sala, a sua presença preencheu o espaço como uma sombra. “Aqui não há segredos, Tomás”, disse com um sorriso venenoso. “Tudo se sabe, por isso não lhe metas ideias na cabeça. Ela está bem, e tu fica no teu lugar.”

A ameaça era clara, mas Tomás encarou-o como se olhasse para um inimigo que não sabia que o seu tempo estava a acabar. Os anos no exército ensinaram-lhe paciência, estratégia, a esperar pelo momento certo para agir. Não podia ser impulsivo, não com Joana tão vulnerável. Os dias seguintes foram um tormento silencioso. Tomás observava, memorizava os movimentos de Marco, cada palavra, cada gesto, recolhendo provas como se estivesse a preparar um caso num campo de batalha.

Ignorou as provocações de Marco—os comentários cortantes, as risadas cruéis—, mas o que mais o magoava, o que lhe arrancava pedaços da alma, eram os gritos abafados que ouvia de noite, os soluços de Joana que trespassavam as paredes. “A cobardia de Marco não estava só nos golpes”, pensou Tomás, “mas na forma como a convencera de que ninguém acreditaria nela, de que estava sozinha, de que merecia aquele inferno.” Marco era um predador, e Joana, a sua presa.

Uma tarde, enquanto Joana saía para deitar o lixo, Tomás aproveitou um instante fugaz. Deslizou-lhe um papel com o contacto de um amigo na procuradoria, que lhe devia um grande favor. “Guarda isto. Liga-lhe se puderes”, sussurrou. Ela agarrou-o com mãos trémulas, mas ao ver Marco a observá-la da janela, escondeu-o no bolso num movimento rápido, como se a vida dela dependesse disso. O medo ainda a acorrentava, mais forte que qualquer esperança.

Naquela noite, enquanto Tomás fingia dormir no sofá, um baque seco e um gemido dilacerante fizeram-no saltar. Aproximou-se da porta do quarto, o coração a bater como um tambor. Ouviu a voz de Marco, baixa e carregada de fúria: “Se disseres uma palavra ao teu irmão parvo, juro que não será sóa próxima vez.” Tomás apertou os punhos até os nós dos dedos ficarem brancos, sabendo que aquela não era só uma luta para salvar Joana, mas uma guerra contra um monstro que julgava ser intocável.

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