No Meu Aniversário de Dezoito, Minha Mãe Me Expulsou. Anos Depois, Voltei e Descobri Seu Segredo Sombrio no Fogão

Inês sempre se sentiu uma estranha na própria casa. A mãe claramente preferia as irmãs mais velhas — Beatriz e Carolina —, dedicando-lhes muito mais atenção e carinho. Essa injustiça magoava profundamente a rapariga, mas ela engolia o ressentimento, esforçando-se constantemente para agradar à mãe e conquistar um mísero pedaço de amor.

“Nem penses em viver comigo! O apartamento fica para as tuas irmãs. E desde pequena que me olhas como uma lobinha. Arranja-te como puderes!” — foi com estas palavras que a mãe expulsou Inês de casa mal ela fez dezoito anos.

A rapariga tentou argumentar, explicar que era injusto. Beatriz era só três anos mais velha, e Carolina cinco. Ambas tinham terminado a universidade paga pela mãe; ninguém as apressara a ser independentes. Mas Inês sempre fora a excluída. Por mais que se esforçasse para ser “boa”, na família só era amada superficialmente — se é que aquilo podia ser chamado de amor. Apenas o avô a tratava com ternura. Ele fora quem acolhera a filha grávida quando o marido a abandonou e desapareceu sem deixar rasto.

“Será que a mãe está ressentida por eu me parecer com a irmã dela?”, pensava Inês, tentando justificar a frieza materna. Já tentara conversar a sério com a mãe, mas sempre acabava em gritaria ou drama.

O avô fora o seu verdadeiro apoio. As melhores memórias de infância estavam ligadas à aldeia onde passavam os verões. Inês adorava ajudar na horta, ordenhar vacas, cozinhar broas — tudo para adiar o regresso a casa, onde a esperavam desdém e censura.

“Avô, por que é que ninguém me ama? O que tenho de errado?”, perguntava, segurando as lágrimas.

“Eu amo-te muito”, respondia ele com suavidade, mas nunca dizia uma palavra sobre a mãe ou as irmãs.

A pequena Inês queria acreditar que ele tinha razão, que era amada, só de maneira diferente… Mas aos dez anos, o avô faleceu, e a partir daí a família tratou-a ainda pior. As irmãs gozavam com ela, e a mãe sempre as defendia.

A partir daquele dia, nunca mais teve nada novo — só roupas usadas de Beatriz e Carolina. Elas troçavam:

“Oh, que blusa tão moderna! Serve para limpar o chão ou para a Inês — o que der mais jeito!”

E se a mãe comprava doces, as irmãs comiam tudo e entregavam-lhe só os invólucros:

“Toma, parva, colecciona os papéis!”

A mãe ouvia e nunca as repreendia. Assim cresceu Inês, uma “lobinha” — desnecessária, mendigando amor de quem a via como um zero à esquerda e alvo de troça. Quanto mais tentava ser boa, mais a detestavam.

Por isso, quando a mãe a expulsou no seu décimo oitavo aniversário, Inês arranjou emprego como auxiliar de saúde num hospital. Resistência e trabalho duro tornaram-se-lhe hábito, e agora pelo menos recebia — pouco, mas algo. Ali, ninguém a odiava. Se numa vida de esforço não recebes ódio, já era um avanço. Era o que ela pensava.

O chefe até lhe deu uma bolsa para estudar medicina e especializar-se em cirurgia. Na vila, faltavam especialistas, e Inês já mostrara talento como enfermeira.

A vida era dura. Aos vinte e sete, não tinha família próxima. O trabalho tornara-se a sua vida — literalmente. Vivia para os doentes que salvava. Mas a solidão nunca a abandonou: vivia num quarto alugado, como sempre.

Visitar a mãe e as irmãs era desilusão garantida. Inês tentava ir o menos possível. Todos saíam para fumar e mexericar, e ela ia para a varanda chorar.

Certo dia, nesse exacto momento, um colega — o auxiliar Gonçalo — aproximou-se:

“Por que choras, linda?”

“Que linda… Não gozes”, respondeu Inês baixinho.

Considerava-se uma ratazana insignificante, sem perceber que quase aos trinta se tornara uma loira delicada, de olhos azuis e nariz pequeno. A desajeitada adolescente desaparecera, os ombos endireitaram-se e o cabelo, preso num rabo-de-cavalo, parecia querer libertar-se.

“És mesmo bonita! Valoriza-te e não andes com a cabeça baixa. Para além disso, és uma cirurgiã promissora e a tua vida está a correr bem”, encorajou-a.

Gonçalo trabalhava com ela há dois anos, oferecendo-lhe chocolates vez em quando, mas aquela era a primeira conversa a sério. Inês chorou e contou-lhe tudo.

“Por que não ligas ao senhor Duarte? Aquele que salvaste há pouco. Ele gosta de ti. Dizem que tem bons contactos”, sugeriu Gonçalo.

“Obrigada, Gonçalo. Vou tentar”, respondeu ela.

“Se não der certo, casamo-nos. Tenho casa, não te maltrato”, gracejou.

Inês corou, percebendo que ele falava a sério. Ele não via uma coitadinha, mas uma mulher que merecia amor.

“Está bem. Vou ponderar essa opção”, sorriu, sentindo pela primeira vez em anos que não era uma “burra de carga”, mas uma jovem bonita com tudo pela frente.

Naquela noite, Inês ligou ao senhor Duarte:

“É a Inês, a cirurgiã. Deu-me o seu número e disse para contactar se precisasse…”, começou, hesitante.

“Inês! Que surpresa boa! Finalmente ligaste! Vamos antes combinar um encontro. Aparece, tomamos chá e conversamos. Nós, os velhos, adoramos uma boa prosa”, respondeu ele calorosamente.

No dia seguinte, Inês foi visitá-lo. Contou-lhe a situação e perguntou se ele conhecia alguém que precisasse de uma cuidadora.

“Compreende, senhor Duarte, estou habituada a trabalhar duro, mas agora sinto que já não aguento…”

“Não te preocupes, Inêsinha! Arranjo-te lugar como cirurgiã numa clínica privada. E vives comigo. Sem ti, eu já não estaria aqui”, disse ele.

“Oh, claro, senhor Duarte, aceito! Mas a sua família não se importa?”

“A minha família só aparece quando eu morrer. Só querem saber do apartamento”, respondeu ele, triste.

Começaram a viver juntos. Dois anos depois, nasceu um romance entre Inês e Gonçalo, alimentado por chávenas de chá. Mas o senhor Duarte não gostava dele e não perdia uma oportunidade para avisar:

“Desculpa, minha querida, mas o Gonçalo é um bom rapaz, só que fraco e influenciável. Não podes contar com alguém assim. Não te apegues muito.”

“Oh, senhor Duarte… Já é tarde. Decidimos casar. Aliás, ele propôs-me em brincadeira há dois anos. E agora estou grávida…”, anunciou Inês, radiante. Ainda recentemente descobrira a novidade, mas acrescentou: “Mas o senhor continua a ser muito importante para mim! Visito-o todos os dias. É como família.”

“Bem, Inês… Não me sinto bem. Vamos amanhã ao notário e registo a casa da aldeia em teu nome. Sempre gostaste da vida rural. Pode ser a tua casinha de campo… ou vendes, se preferires.”

Hesitou, sem concluir, e franziu a testa.

Inês tentou recusar: era demasiado, ele ainda viveria muitos anos, melhor deixar a casa para os filhos. Apesar de nos últimos dois anos só o terem visitado uma vez. Mas o senhor Duarte foi inflexível.

InêsAnos depois, numa tarde quente de verão, Inês olhava o filho a brincar no quintal da casa que fora do avô e sorria, sabendo que finalmente encontrara o amor que sempre merecera—não na família que a rejeitou, mas na vida que construíra com suas próprias mãos.

Leave a Comment