Dizem que o dia do casamento é o dia mais feliz da vida. Mas não contam que também pode ser o dia em que o teu mundo desaba enquanto ficas parada num vestido de seda branca, a ver tudo em que acreditaste desmoronar. Chamo-me Beatriz, e esta é a história de como descobri que as duas pessoas em quem mais confiava me estavam a mentir há meses. Mas mais do que isso, esta é a história do que fiz a seguir — algo tão inesperado, tão devastador, que deixou uma sala cheia de pessoas de joelhos. Uns chamam-lhe vingança. Eu chamo-lhe justiça.
Há três meses, achava que tinha tudo sob controle. Tinha 26 anos, era professora de jardim de infância, noiva de Ricardo, um gerente de construção bem-parecido com olhos verdes que sorriam antes da boca. Éramos o casal dourado da nossa pequena cidade, Tomar. A minha madrinha de casamento era Leonor, a minha melhor amiga desde os sete anos, uma mulher tão bonita que fazia virar cabeças. Era a minha pessoa, aquela em quem confiava cegamente. Envolveu-se no planeamento do casamento com um entusiasmo contagiante, ajudando-me a escolher o local, a provar bolos e a escrever os convites com a sua caligrafia impecável. “Tu mereces esta felicidade”, dizia-me, apertando-me a mão. “O Ricardo tem muita sorte em te ter.” Acreditei nela. Confiei nos dois.
Na véspera do casamento, a minha tia-avó Margarida, uma mulher tão perspicaz como bondosa, pegou nas minhas mãos com as suas mãos calejadas. “O casamento não é sobre o grande dia, minha querida”, disse. “É sobre escolherem-se um ao outro quando as coisas apertam. Garante que te casas com alguém que te escolha de volta.” Assenti, certa de que era o caso. Nós éramos sólidos. Estávamos prontos. Adormeci naquela noite a sonhar com o momento de descer o corredor.
O dia 15 de junho amanheceu radiante. A manhã foi um turbilhão de penteados, maquilhagem e risos nervosos. No local do casamento, a Quinta das Amendoeiras, tudo parecia saído de um conto de fadas. Rosas brancas e flores de papel enfeitavam cada canto. Era perfeito. Às 13h30, a Leonor saiu do quarto da noiva para verificar as flores. “Volto já”, prometeu. “Nem penses em estragar o batom.”
Às 13h45, a organizadora do casamento ligou. “Pequeno problema”, disse, com voz controlada. “O noivo parece estar um pouco atrasado.” Um frio na barriga. O Ricardo nunca se atrasava. Às 14h00, o frio tornara-se um nó. A organizadora ligou novamente. “Não conseguimos contactá-lo pelo telefone.” Tentei ligar ao Ricardo. Direto para o correio de voz. Tentei a Leonor. O mesmo.
Às 14h15, os meus pais estavam à porta, os rostos tensos. “Querida”, disse o meu pai, cauteloso, “vamos resolver isto.” Mas eu já estava em movimento. “O hotel”, disse de repente. “Ele ficou no Hotel dos Templários ontem à noite.”
“Beatriz, talvez devêssemos esperar”, implorou a minha mãe.
“Não”, respondi, seca. “Preciso de saber onde está o meu noivo.” A tia Margarida apareceu ao meu lado. “Vou contigo”, afirmou, firme. “Não deves enfrentar isto sozinha.”
O Hotel dos Templários era um local encantador, cheio de história. A rececionista idosa olhou para mim com uma mistura de confusão e pena ao entregar-me a chave do quarto nupcial. O corredor no segundo andar estava silencioso, mas ao aproximar-me do quarto 237, ouvi sons vindos de dentro. O meu coração batia tão forte que tinha a certeza de que todos o ouviam. Coloquei a chave na fechadura e empurrei a porta.
O quarto estava escuro, as cortinas pesadas fechadas. Demorou um momento até os meus olhos se habituarem à cena. A cama estava desfeita, lençóis emaranhados. O fato do Ricardo, aquele em que devia casar-se, estava amarrotado no chão ao lado de um vestido lilás — o vestido da Leonor. E ali, na cama, estavam o Ricardo e a Leonor, nus e entrelaçados, a dormir.
O ar saiu-me dos pulmões. A sala girou. Atrás de mim, ouvi a minha mãe suspirar e o meu pai praguejar. Não conseguia mexer-me. Fiquei ali, a olhar para a garrafa de champanhe vazia no criado-mudo, para as joias da Leonor espalhadas pela cómoda, para os escombros da minha vida.
O Ricardo mexeu-se, os olhos a abrirem-se lentamente. Quando me viu ali, de vestido de noiva, o rosto dele empalideceu. “Beatriz”, murmurou, tentando sentar-se e acordando a Leonor. “Beatriz, posso explicar.”
“Explicar?” A palavra saiu como um sussurro, mas cortou o ar como uma faca. “Explicar porque estás na cama com a minha melhor amiga no dia do nosso casamento? Explicar porque há duzentas pessoas à espera de um noivo que está demasiado ocupado com a minha madrinha para aparecer?”
A Leonor acordou, os olhos arregalados de horror. “Beatriz, por favor”, gaguejou, segurando o lençol ao peito. “Não é o que parece.”
“Não é o que parece?” Ri-me, um som agudo e partido. “Parece que o meu noivo e a minha melhor amiga me traíram. Então, por favor, Leonor, explica-me o que realmente é.”
Não tinham resposta. Voltei-me para a minha família — a minha mãe a chorar, o meu pai com um olhar assassino e a tia Margarida, a observar-me, à espera para ver o que faria a seguir.
“Liguem-lhes”, disse calmamente. “Liguem aos pais do Ricardo, à irmã dele, ao padrinho. Digam-lhes para virem aqui. Precisam de ver isto.”
“Beatriz, por favor”, implorou o Ricardo, o pânico nos olhos. “Vamos falar disto em privado.”
“Em privado?” Voltei-me para ele, algo frio e duro a fixar-se no meu peito. “Queres falar disto em privado depois de me humilhares em frente a toda a cidade?”
Comecei a fazer chamadas eu mesma. Em vinte minutos, o quarto nupcial estava cheio dos destroços das nossas famílias. Os pais do Ricardo, a irmã Marta, o padrinho — os rostos deles um caleidoscópio de choque, horror e nojo.
“Foi um erro”, disse o Ricardo, desesperado. “Um erro estúpido, bêbado. A Leonor não significa nada para mim.”
“Não significa nada?” Repeti, a voz a subir. “Dormiste com a minha madrinha no dia do nosso casamento, e não significa nada?”
Aproximei-me da cómoda, onde a mala da Leonor estava aberta. Lá dentro, vi um cartão de hotel — não deste quarto. “Leonor”, disse, segurando-o. “O que é isto? O Hotel do Lago, do mês passado, quando disseste que estavas com a tua amiga da faculdade, o Ricardo?” Puxei outro. “O Hotel Douro, de há três semanas, quando tiveste a tal ‘conferência de trabalho’?”
O silêncio na sala foi ensurdecedor. Não tinha sido um erro único. Isto acontecia há meses.
“Quero que todos voltem para a quinta”, disse com calma. “Contam aos convidados o que aconteceu. Digam-lhes que não haverá casamento porque o noivo estava demasiado ocupado a dormir com a madrinha.”
“Beatriz”, implorou a mãe do Ricardo, a voz a partir-seE hoje, ao olhar para trás, percebo que aquele dia não foi o fim do meu amor, mas sim o começo de um novo capítulo onde aprendi a amar-me mais do que qualquer outra pessoa alguma vez poderia.