Nunca esquecerei aquele dia, o instante em que a minha vida mudou para sempre. Após a morte do meu pai, a casa que conhecia, cheia de amor e risos, tornou-se um lugar de sofrimento.
A minha madrasta, Leonor, agora dona de tudo, fez-me sentir como uma intrusa na minha própria casa.
Os jantares transformaram-se em provas de silêncio, onde os olhares acusadores e os sussurros cruéis eram mais pesados do que nunca.
Mas Leonor não se contentou em destruir-me nas sombras; quis humilhar-me perante todos.
Foi então que lhe ocorreu a ideia de me casar com um sem-abrigo.
Não qualquer sem-abrigo, mas um homem de roupas sujas, evitado por todos que passavam.
Leonor ofereceu-lhe dinheiro para proferir as palavras fatídicas “sim, aceito” no altar e depois desaparecer, levando consigo toda a minha dignidade.
Aceitei. Não por mim, mas para salvar o meu irmão mais novo, doente e frágil, e protegê-lo daquela monstro que era Leonor.
Chegou o dia do casamento, e a igreja estava cheia, não de amigos ou familiares, mas de curiosos que vieram testemunhar a minha queda.
Caminhei, trémula, a vergonha a apertar-me a cada passo. E então, quando as portas se abriram, a cena mudou de forma completamente inesperada.
O homem que entrou não era o sem-abrigo que eu imaginara.
Estava vestido com simplicidade, mas a postura ereta e o olhar inteligente não revelavam submissão.
Aproximou-se, pegou na minha mão e sussurrou: “Confia em mim.” Essas palavras acalmaram os meus temores.
O padre fez a pergunta habitual: “Se alguém se opõe a esta união, que fale agora…”.
O homem ergueu a mão.
“Eu aceito,” disse, depois virou-se para a multidão. “Sou Eduardo Teixeira, CEO da Teixeira Global. Vivi disfarçado durante seis meses. Esta mulher foi a única que me viu por quem eu sou, mesmo quando eu era um sem-abrigo.”
Um murmúrio percorreu a igreja.
Leonor, furiosa, tentou negar, mas Eduardo tinha tudo planeado.
Apresentou provas: um contrato assinado, gravações de Leonor a oferecer-me dinheiro para arruinar a minha vida.
Acrescentou que descobrira fraudes financeiras que ela cometera com a herança do meu irmão e a minha.
Eduardo virou-se para mim, sincero.
Não se casara comigo por dinheiro, mas por amor. Pedira-me em casamento não por obrigação, mas por amor.
As lágrimas encheram-me os olhos, e eu disse: “Sim.”
Um ano após aquele casamento que abalou as notícias, já não me importava com a imprensa.
O que importava era a paz que recuperara e a felicidade que encontrara com Eduardo e o meu irmão.





