Enquanto o meu marido estava fora, o meu sogro pediu-me para pegar num martelo e partir o azulejo atrás do retrete: vi um buraco por trás do azulejo, e algo terrível estava escondido naquele buraco.
Estava na cozinha, a lavar a louça. O meu filho brincava em casa dos vizinhos, e o meu marido estava em Lisboa a tratar de negócios. Parecia uma noite como tantas outras. Mas, naquele momento, senti alguém atrás de mim. Virei-me—era o meu sogro. O seu rosto estava tenso, o olhar expectante.
“Precisamos de conversar,” sussurrou ele, tão baixo que mal se ouvia por cima do barulho da água.
“O que aconteceu?” perguntei, enxugando as mãos numa toalha, ansiosa.
Ele aproximou-se, inclinou-se para o meu ouvido:
“Enquanto o meu filho está fora… pega num martelo e parte o azulejo atrás do retrete. Ninguém pode saber disto.”
Não consegui evitar um riso—pensei que o velho tinha enlouquecido.
“Porquê estragar o azulejo? Vamos vender a casa em breve…”
Mas ele interrompeu-me, apertando os meus dedos com as suas mãos ossudas:
“O teu marido está a trair-te. A verdade está ali.”
Havia algo nos seus olhos que não me deixou ignorá-lo. Ele estava com medo. Tanto medo, como se a sua vida dependesse daquela conversa.
A ansiedade cresceu dentro de mim. A princípio, quis afastar a ideia, mas a curiosidade foi mais forte.
Meia hora depois, estava na casa de banho. A casa estava vazia. Tranquei a porta, peguei no martelo e hesitei antes de bater na parede. Olhei para os azulejos brancos e lisos, que o meu marido tinha colocado com tanto cuidado. “Devo mesmo parti-los? E se o meu sogro estiver apenas a delirar?”
Mas as minhas mãos agiram sozinhas. O primeiro golpe foi suave—o azulejo apenas rachou. O segundo foi mais forte, um pedaço caiu no chão com um baque. Segurei a respiração e aproximei a lanterna.
Havia um buraco escuro atrás do azulejo. E algo estava lá dentro…
As minhas mãos tremeram. Meti os dedos no buraco e senti um saco de plástico, ressequido. O coração batia com força nas têmporas. Puxei-o devagar. O plástico amarelado parecia inofensivo. Mas, quando o desdobrei, cobri a boca para não gritar.
Dentro estavam dentes. Dentes humanos. Dezenas, talvez centenas.
Tremei. Sentei-me no chão frio, apertando o saco contra o peito. Uma única ideia martelava na minha cabeça: isto não pode ser real…
Andei de um lado para o outro, até que decidi procurar o meu sogro. Quando ele viu o pacote, suspirou fundo.
“Então encontraste,” disse, cansado.
“O que é isto?!” gritei, embora a voz me falhasse. “De quem são?!”
Ele baixou os olhos, ficou em silêncio, e depois falou com uma voz grave:
“O teu marido… não é quem pensas que é. Ele tirou vidas. Queimou os corpos… mas os dentes não ardem. Ele arrancou-os e escondeu-os aqui.”
Não queria acreditar. O meu marido era um pai dedicado, um homem de confiança. Mas a prova estava diante de mim.
“Tu sabias?” murmurei.
O meu sogro olhou para mim. Não havia alívio no seu olhar, apenas cansaço e uma sombra de culpa.
“Calei-me… durante demasiado tempo. Mas agora—tu tens de decidir o que fazer.”
E, naquele momento, percebi: a minha vida nunca mais seria a mesma.





