Miguel trabalhava numa luxuosa loja de vestidos de noiva e orgulhava-se de tudo o que fosse extravagante. Era bastante materialista, o que muitas vezes o tornava um pouco crítico demais.
Numa tarde calma, uma senhora idosa chamada Beatriz entrou na loja. O dia estava invulgarmente tranquilo — apenas Miguel e a sua colega, Carla, estavam a trabalhar.
Beatriz definitivamente não era o tipo de cliente que a loja costumava atender. As suas roupas eram antiquadas, o penteado desalinhado — longe do que alguém poderia chamar de “elegante”. Mas Beatriz nunca se importou com aparências. Valorizava a beleza interior mais do que o exterior e nunca fora do tipo materialista. O seu trabalho modesto raramente a levava a lojas como aquela.
Ainda assim, Beatriz decidira que, para o seu próximo casamento no verão, iria dar-se ao luxo. Quando entrou, Miguel ergueu os olhos, franziu a testa em desaprovação e voltou a mexer no telemóvel.
“Ó pá, acho que alguém se perdeu a caminho do jogo de sueca. Olha para aquele cabelo. Que desastre”, murmurou para Carla. “Ó avó, deixe-me facilitar-lhe as coisas, está bem?”
“Isto não tem piada, Miguel”, disse Carla secamente. “Ela é uma cliente e merece o mesmo tratamento que qualquer outra. Agora, por favor, ajude-a. Vou buscar o stock novo ao armazém.”
Miguel revirou os olhos, ignorando-a enquanto continuava a enviar mensagens. Beatriz aproximou-se com um sorriso educado, esperando ajuda, mas ele nem sequer a olhou.
“Desculpe, jovem, poderia ajudar-me?” perguntou com gentileza.
“O que é que quer?” respondeu ele num tom áspero, os olhos fixos no telemóvel.
“Não há necessidade de ser rude”, respondeu Beatriz, suave. “Só preciso de ajuda a escolher um vestido de noiva. Vou casar este—”
“Ó avó”, interrompeu ele, suspirando com impaciência. “Deixe-me poupar tempo aos dois. A julgar pela sua roupa, já sei que não pode comprar nada aqui. Há uma loja de segunda mão a duas ruas — lá terá o que procura.”
“Oh, é mesmo? Consegue perceber isso só de olhar, é?” disse Beatriz, com deceção na voz.
“Não leve a mal, minha querida”, retorquiu Miguel. “Estou a fazer-nos um favor. Não vale a pena perdermos tempo.”
“Bem”, respondeu Beatriz, calmamente, “se não me respeita como cliente, respeite-me pelo menos como sua idosa.”
“Sim, como quiser”, murmurou Miguel, ignorando-a.
Nesse momento, outra mulher entrou — jovem, elegante, a transpirar riqueza. Miguel levantou-se num salto, estampando um sorriso exagerado enquanto se aproximava dela.
“Olá! Oh, está absolutamente deslumbrante, minha querida! Como posso ajudá-la hoje?” disse, entusiasmado.
Carla regressou do armazém a tempo de notar a expressão desanimada de Beatriz. Deixou as caixas e dirigiu-se logo a ela.
“Olá, minha senhora! Já a atenderam?” perguntou Carla, calorosamente.
“Não, o seu colega acha que não valho o tempo dele. Poderia ajudar-me?” respondeu Beatriz, olhando para Miguel, que agora ria-se com a nova cliente.
“Não lhe dê importância”, disse Carla. “Então, o que procura?”
“Vou casar este verão”, explicou Beatriz, animada. “E quero algo especial.”
“Parabéns! Um casamento de verão deve ser lindo. Acho que tenho a peça perfeita para si. Venha comigo”, disse Carla, conduzindo-a até aos vestidos.
“Já ouviu o ditado sobre presumir, não ouviu?”
Carla escolheu alguns vestidos para Beatriz experimentar, e, para sua surpresa, ela apaixonou-se por um dos mais caros da loja. Entretanto, a jovem “influenciadora” experimentou quase oito vestidos, tirando fotos em cada um antes de passar ao próximo.
“Desculpe, minha senhora”, disse Miguel, com os dentes apertados. “Já experimentou quase oito vestidos e tirou fotos em todos. Qual deles vai levar?”
“Hum… na verdade, acho que não vou comprar nada”, respondeu ela, despreocupada, tirando outra selfie.
“O quê?! Então nem sequer ia comprar?” exclamou Miguel.
“Acalme-se”, disse ela, com um piscar de olhos. “Entre nós, só precisava de algumas fotos para as redes sociais.”
“Está a falar a sério?” perguntou Miguel, atónito.
“Desculpe, amigo!” disse ela, entregando-lhe o vestido e saindo.
Frustrado, Miguel virou-se — e gelou. No balcão, Beatriz estava a retirar um envelope cheio de dinheiro. Pagou pelo vestido mais caro à vista e deixou a Carla uma gorjeta de 5.000 euros.
“Hum… isso é uma gorjeta generosa, minha senhora”, balbuciou Miguel, repentinamente nervoso.
“Minha senhora? Há pouco era ‘avó'”, respondeu Beatriz, friamente.
“Oh, não, isso foi só… uma brincadeira. Se eu soubesse que—”
“Se soubesse o quê?” interrompeu Beatriz. “Que não preciso de ir a lojas de segunda mão? Já ouviu o ditado sobre presumir, não ouviu?”
O rosto de Miguel ardia de vergonha. Beatriz virou-se para Carla com um sorriso caloroso.
“Obrigada, Carla. Foi maravilhosa. Vejo-a no casamento, sim?”
“Claro, Beatriz. Foi um prazer. E obrigada pelo convite”, respondeu Carla.
Beatriz acenou e saiu, enquanto Miguel ficou mudo, tentando compreender o que acontecera.
“Eu… eu… não entendo”, murmurou.
Carla não conseguiu evitar uma risada. “A Beatriz é enfermeira. Vai casar com um milionário viúvo que conheceu enquanto cuidava dele depois de um acidente. Ela nem sabia que ele era rico até ele ter alta.”
Miguel ficou estupefacto — e profundamente envergonhado. Carla sorriu e deu-lhe uma palmadinha no ombro.
“Leva isto como lição, Miguel. Da próxima vez, pense duas vezes antes de julgar as pessoas pela aparência.”
Naquele verão, Carla celebrou com Beatriz e o seu novo marido no casamento. Foi uma noite verdadeiramente inesquecível.





