“Dou 10.000 euros se aceitares casar comigo por 30 dias”, propôs o milionário à jovem sem abrigo. Ela aceitou com uma condição. “Preciso que te cases comigo.” As palavras saíram dos lábios de Bernardo enquanto a chuva caía implacável sobre as ruas de Lisboa, encharcando o seu fato de grife enquanto se ajoelhava diante da jovem que se abrigara sob a marquise do seu edifício corporativo. Os joelhos tocaram no calcário molhado, manchando o tecido italiano de barro, mas ele já não se importava. Leonor Teixeira olhou para cima, surpresa. Seus olhos verdes brilharam com desconfiança e curiosidade enquanto estudava o homem diante dela.
Nos últimos meses nas ruas, aprendera a ler as pessoas – e este estranho emanava uma desesperação que quase igualava a sua. “Desculpe”, disse ele, a voz rouca pelo frio e cansaço. Bernardo sacou um maço de notas da carteira, as mãos ligeiramente trémulas. Não acreditava no que estava prestes a fazer, mas as palavras do seu advogado ecoavam na mente: “Tens seis meses para casar e permanecer casado ou perdes todo o império hoteleiro da tua família.”
“Dou-te 10.000 euros para casares comigo por seis meses”, disse, estendendo o dinheiro. “É apenas um acordo de negócios.” Leonor levantou-se lentamente, ignorando as notas. Mesmo com a roupa encharcada e a situação desesperada, havia algo na sua postura que irradiava dignidade. Bernardo surpreendeu-se ao notar que, mesmo ali, ela mantinha a cabeça erguida.
“O que te faz pensar que me venderia por dinheiro?”, perguntou, cruzando os braços. Bernardo passou a mão pelo cabelo molhado, procurando as palavras certas: “Sei que isto parece loucura, mas meu avô deixou uma cláusula no testamento. Se não me casar antes dos 33 anos e permanecer casado seis meses, perco a herança. O meu aniversário é em duas semanas.”
Leonor estudou-o com olhos penetrantes: “Deves ter noivas a caminho ou candidatas mais adequadas.” A risada amarga de Bernardo não tinha humor. Três horas antes, encontrara a noiva, Beatriz, na cama com o sócio comercial, Guilherme Matos. A traição ainda lhe queimava no peito.
Beatriz traiu-me com o meu melhor amigo”, admitiu. “E as mulheres do meu meio só querem compromissos permanentes. Preciso apenas cumprir os termos legais.” Leonor ficou em silêncio por longos segundos. Ao longe, o trânsito misturava-se com o tinir constante da chuva. Bernardo viu o momento em que algo mudou na sua expressão.
“O meu irmão mais novo precisa de cirurgia cardíaca”, disse Leonor finalmente. “O Tiago tem 16 anos e sem a operação não chega aos 18.” As palavras atingiram Bernardo como um soco no estômago. De repente, compreendeu porque aquela mulher estava nas ruas – não por drogas ou más decisões, mas por amor e sacrifício.
“Quanto custa a cirurgia?”, perguntou. “200.000 euros”, respondeu Leonor, baixando o olhar. “Estamos em listas de espera, mas o tempo está a acabar.” Bernardo guardou o dinheiro e endireitou-se, sentindo a água fria escorrer pelo colarinho da camisa. Olhou-a nos olhos, vendo-a verdadeiramente pela primeira vez.
“Proponho algo diferente: 200.000 euros para a cirurgia do teu irmão mais 10.000 mensais durante seis meses. Em troca, precisas de ser minha esposa legal nesse período. Depois, divórcio limpo.” Leonor cruzou os braços: “Que garantias tenho?” “Contrato legal revisto por advogados independentes. O dinheiro é depositado num fundo antes do casamento.”
Pela primeira vez, Leonor pareceu considerar seriamente a proposta. Bernardo via a guerra interna nos seus olhos – orgulho contra desespero, amor pelo irmão contra humilhação. “Porque devo confiar em ti?”, perguntou. Bernardo Mendes estendeu a mão: “Sou CEO dos Hotéis Mendes, terceira geração. Podes verificar tudo.”
Leonor observou a mão estendida antes de a apertar brevemente: “Leonor Teixeira. E tenho condições.” Ela exigiu o melhor tratamento médico para Tiago, limites respeitados durante os seis meses e ajuda para um emprego digno após o contrato. Bernardo aceitou, impressionado com a sua negociação inteligente.
Dois dias depois, no 35º andar de um arranha-céus em Lisboa, Leonor estava sentada num escritório de advogados, a olhar para um contrato matrimonial de 27 páginas. “Não assines nada até eu revisar”, sussurrou a advogada Inês Vaz, especialista em direito de família. “Como conseguiste a melhor advogada de Lisboa?”, perguntou Leonor a Teresa, a assistente de Bernardo.
“Conhecemo-nos na universidade”, respondeu Teresa com um sorriso. “E ela tem fraqueza por causas justas.” Leonor questionou: “E porque me ajudas?” Teresa ficou séria: “Há 15 anos, também estive desesperada, com uma filha doente. Alguém me deu uma oportunidade. Agora é minha vez.”
Na manha seguinte, a cerimónia civil no tribunal durou 18 minutos. Leonor usava um vestido azul-marinho escolhido por Teresa. O beijo foi breve, mas quando os olhos se encontraram, Bernardo viu nela algo que não esperava – respeito genuíno pelo seu sacrifício.
Três horas depois, estavam no consultório do Dr. Santos, o melhor cardiologista pediátrico de Lisboa. “A cirurgia pode ser marcada para semana que vem”, disse o médico a Tiago. “Depois de recuperares, podes ter uma vida normal.” Leonor sentiu as pernas a amolecer de alívio.
A primeira visita à mansão da avó de Bernardo foi um desastre. Dona Amélia Mendes, uma mulher de 72 anos com postura aristocrática, avaliou Leonor com desdém: “Então és a rapariga que casou com o meu neto.” Leonor manteve-se firme: “O respeito conquista-se. Espero ganhar o seu.”
Durante o jantar, Leonor ouviu uma conversa acidental que mudou tudo – descobriu que Guilherme Matos, o homem que traíra Bernardo, também destruíra deliberadamente a empresa da sua família, a Teixeira Construções. O mundo de Leonor desabou. Bernardo sabia? Estaria ele envolvido?
Nas semanas seguintes, enquanto ajudava Bernardo com um projeto hoteleiro problemático, Leonor revelou seu talento para arquitetura. Juntos, redesenharam os planos do Hotel Estrela, encontrando uma solução estrutural que os arquitetos originais não conseguiram. O trabalho conjunto aproximou-os de forma inesperada.
O ponto de viragem veio no baile de gala do hospital infantil. Quando Guilherme tentou humilhar Bernardo num leilão beneficente, Leonor interveio com inteligência, redirecionando o dinheiro para cirurgias cardíacas. Na pista de dança, algo mágico aconteceu – o beijo que partilharam não era para as aparências, mas real e cheio de emoção.
Porém, nessa mesma noite, Leonor encontrou documentos no escritório de Bernardo que a levaram a confrontá-lo. “Sabias que Guilherme destruiu a minha família?”, perguntou. Bernardo ficou chocado ao descobrir a ligação e jurou ajudá-la a obter justiça.
Quando Guilherme soube que estavam a investigá-lo, contra-atacou, usando informações distorcidas para semear dúvidas no coração de Bernardo. “Sabias quem eu era desde o início?”, perguntou Bernardo, ferido. A separação foi dolorosa, mas temporária.
Foi Miguel, o irmão de Leonor, quem encontrou a prova decisiva – documentos públicos mostrando o padrão de corrupção de Guilherme. Juntos, Leonor e Bernardo levarReunidos novamente, Leonor e Bernardo enfrentaram Guilherme nos tribunais, provaram sua culpa e, no final, descobriram que o amor verdadeiro que construíram – nascido de um contrato, mas fortalecido pela honestidade e coragem – era a maior vitória de todas.





