O cão perdeu a compostura ao avistar uma mulher grávida. Porém, o motivo que se descobriu deixou até a polícia em choque.
Tudo começou com um latido: agudo, desesperado, sem pausa. Como se uma sirene ganhasse voz e cortasse o ruído habitual do aeroporto.
A mulher grávida estremeceu, os olhos encheram de medo quando viu diante de si um imponente pastor alemão. Instintivamente, recuou, protegendo a barriga com as mãos.
— Por favor, afastem-no! — sussurrou, procurando ajuda com o olhar. A voz tremia de pânico, o rosto transmitia horror e confusão. Mas Rex — assim se chamava o cão — não se moveu. Foi como se sentisse algo que os outros não percebiam.
O agente João trocou um olhar rápido com os colegas. No seu rosto também havia preocupação. Rex fora treinado para encontrar drogas, armas, explosivos. Mas agora o seu comportamento era diferente. Não era um alerta comum… era um aviso. Um grito animal e desesperado: “Ouçam-me! Agora!”
O sargento, de semblante severo, deu um passo à frente.
— Senhora, acompanhe-nos — disse com firmeza, sem rudeza.
— Mas eu não fiz nada de mal! — exclamou a mulher, os lábios pálidos, a voz trêmula. À sua volta, as pessoas pararam: alguns olhavam com reprovação, outros com curiosidade, outros com clara ansiedade.
João hesitou. E se fosse um falso alarme? Ou, pior, um aviso real?
Respirou fundo e tomou uma decisão.
— Levem-na para uma verificação adicional. Imediatamente.
A cada passo, a mulher ficava mais pálida. Dois agentes acompanharam-na a uma sala isolada. Ela não parava de pressionar as mãos contra a barriga, a respiração acelerada e superficial.
— Não entendo… O que está a acontecer? — murmurava.
João seguiu-a e, atrás dele, Rex. O cão não tirava os olhos dela, como se quisesse protegê-la… ou guardá-la de algo. João nunca o vira agir assim.
Na sala, começou a inspeção. Um dos polícias pegou num scanner. A colega perguntou:
— Tem algum problema de saúde?
— Estou grávida… no sétimo mês… — respondeu a mulher, sem acreditar no que se passava.
Do lado de fora, Rex rosnava e arranhava o chão, quebrando o silêncio. João franziu a testa. Para um cão de serviço, aquele comportamento era anormal. O que ele farejava?
De repente, a mulher gritou. O corpo contraído de dor, os olhos arregalados de terror. O rosto distorcido como se algo dentro dela tivesse cedido.
— Algo… não está bem… — gemeu.
O suor escorria-lhe pela testa, a respiração pesada e irregular. João não esperou.
— Rápido, chamem uma ambulância!
A mulher deslizou para a cadeira, o corpo a tremer. Nos seus olhos não havia apenas medo e dor, mas pânico por quem ainda vivia dentro dela.
E, do lado de fora, Rex parou de rosnar… e soltou um uivo triste, quase humano. O mesmo som que fizera ao encontrar uma criança ferida sob os escombros. João lembrava-se bem daquele olhar.
— Ela está em trabalho de parto? — perguntou um dos agentes, atordoado.
— Não… — respondeu a mulher, ofegante. — É cedo demais… Não devia estar a acontecer…
Médicos entraram na sala.
— Acalme-se, vamos levá-la ao hospital — disse um deles, aferindo o pulso. Era irregular, hesitante, como se o coração não soubesse se devia continuar.
Rex, de repente, tensionou-se, farejou o ar e avançou como se detectasse uma ameaça iminente. O rosnar grave soou como um alerta. O peito de João apertou-se.
O médico inclinado sobre a mulher parou. Pousou a mão na barriga dela e franziu os olhos.
— Esperem… Isto não são contrações. É outra coisa.
— Eu… não percebo… — soluçou a mulher. Lágrimas escorriam-lhe pelas faces. — Salvem o meu bebê…
E então tudo ficou claro. O médico olhou para João:
— É uma hemorragia interna. Se não operarmos agora, morrem os dois.
O mundo virou caos. Os médicos levantaram a mulher numa maca e correram pelo corredor. As pessoas afastaram-se. Uns filmavam, outros rezavam. Rex corria ao lado, guiado pelo instinto de que uma vida pendia por um fio.
— Aguente-se! — gritou um paramédico quando a mulher desmaiou.
João seguiu ao lado, Rex ligeiramente à frente. O rabo imóvel, todo o seu ser concentrado na luta pela vida.
Quando as portas da ambulância se fecharam, a mulher virou a cabeça. Os lábios tremiam.
— Obrigada… — sussurrou, olhando para Rex.
O cão respondeu com um ganido suave. João pousou a mão no seu dorso.
— Bom trabalho, amigo. Conseguimos.
As sirenes rasgTrês meses depois, no batizado do pequeno Miguel, Rex usava uma gravata azul e recebeu o primeiro pedaço do bolo, enquanto toda a família sorria e o chamava de herói.





