A Mãe que Dormiu no Chão para Proteger os Gêmeos — Até que um Rico Descobriu a Verdade6 min de lectura

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A mansão dos Albuquerque erguia-se soberana e silenciosa, seus pisos de mármore brilhando sob a luz ténue dos lustres. Lá fora, o vento invernal arranhava as altas janelas de vidro, sacudindo-as com cada rajada gélida. Dentro, porém, o ar era denso e pesado. Um calor que se agarrava mais às paredes do que aos corações daqueles que ali viviam.

Beatriz ajustou seu uniforme de empregada na cor verde-água e esfregou o braço por cima das luvas finas de limpeza. O antebraço ainda latejava onde um hematoma, profundo e roxo, começara a surgir mais cedo. Aprendera há muito que era mais fácil esconder hematomas do que palavras ditas fora de hora. Na casa dos Albuquerque, o silêncio era sobrevivência.

Catorze horas de pé, esfregando, polindo, tirando pó. Mas o trabalho não acabava aí. Os gémeos choraram até a exaustão mais cedo, e Beatriz fora a única a confortá-los. Seus gritos perfuraram o ar como uma eternidade, e ninguém mais apareceu.

Os meninos, com apenas três meses, repousavam agora sobre um cobertor branco estendido no tapete, vestidos com macacões azuis idênticos. Seus peitinhos subiam e desciam em uníssono, frágeis e firmes. As bochechas coradas tocavam-se enquanto dormiam, buscando calor não do pai ou da família, mas da única mulher que permanecia.

Beatriz ajoelhou-se ao lado deles, o corpo a doer, o espírito à beira do esgotamento. Quando fora contratada seis meses antes, disseram-lhe que seu papel era apenas a limpeza, mas a realidade revelara-se rapidamente. As amas vinham e iam, nunca ficando mais que algumas semanas. Quando partiam, ninguém as substituía. Era mais fácil para os Albuquerque exigirem que Beatriz assumisse o papel de cuidadora do que realmente procurarem ajuda.

A mãe dos meninos partira desde o parto, suas memórias sussurradas entre a equipe, como se pronunciar seu nome pudesse perturbar sua paz. Duarte Albuquerque, o pai, era um homem cujo nome inspirava respeito nas salas de reuniões e cujas decisões moviam mercados. Mas ali, em sua casa, era um fantasma. Beatriz observou os gémeos a dormir, o coração pesado de amor e preocupação.

Naquela noite, um deles tivera febre, os pequenos punhos cerrados de dor, enquanto o outro gritara até a garganta ceder. Beatriz embalara, cantarolara e confortara-os de todas as formas que sabia. Agora, seus braços tremiam de cansaço. Não ousara colocá-los no quarto das crianças. O ambiente era frio demais, os berços, rígidos demais.

Por isso ficara ali, onde o tapete guardava o calor do abajour dourado. A exaustão arranhava-lhe a mente. Deitou-se ao lado dos meninos, a face apoiada no braço, a mão enluvada estendida sobre o cobertor. Ouviu suas respirações suaves, prometendo a si mesma que não fecharia os olhos. Mas a fadiga traiu-a. Disse a si mesma que seria só por um instante.

A casa estava silenciosa quando a porta da frente abriu-se. Duarte Albuquerque entrou, os passos firmes, o fato azul-marinho impecável, a gravata vermelha perfeita. Segurava a pasta com uma mão, enquanto a outra afrouxava o nó da gravata. Ao entrar, parou. Ali, na sala, estava sua empregada, deitada no tapete, a cabeça a centímetros de seus filhos.

Os gémeos dormiam no chão, as faces tocando o cobertor macio. O braço de Beatriz estendia-se sobre a borda, uma guardiã silenciosa. Ele notou o hematoma, ténue mas inegável. A voz dele cortou o silêncio como uma faca. “Que raio se passa aqui?”

Beatriz acordou sobressaltada, o pulso acelerado. Sentou-se rapidamente, o olhar alternando entre ele e os gémeos. Um dos meninos choramingou. Em resposta, Duarte avançou. “Fiz-te uma pergunta. Porque é que os meus filhos estão no chão? Porque estás a deitar-te aí?” Ele parou, o olhar fixo no hematoma. “O que aconteceu ao teu rosto?”

Beatriz engoliu seco, a voz suave. “Eles estavam a chorar. Precisavam—”

“Eles têm uma ama para isso,” interrompeu ele.

Desta vez, ela não recuou. “Não, não têm. Sou só eu.”

Um lampejo de incerteza cruzou o rosto dele, mas o tom permaneceu frio. “Vamos falar agora no meu escritório.” O peito de Beatriz apertou-se ao olhar para os gémeos, ainda adormecidos, tão pequenos e alheios. Levantou-se devagar, os joelhos rígidos de tantas horas no chão.

O escritório estava escuro, iluminado apenas pelo lume. As sombras dançavam sobre os traços angulosos de Duarte enquanto ele colocava a pasta sobre a mesa. A voz dele era uma ordem. “Explica.”

As mãos de Beatriz tremiam, mas as palavras foram firmes. “Os gémeos não têm cuidado adequado há semanas. A última ama desistiu, e ninguém a substituiu. Eu limpo, eu cozinho, eu cuido deles porque ninguém mais o faz. Hoje, um deles teve febre. Não podia deixá-lo naquele quarto gelado. Por isso fiquei com eles no sítio mais quente que encontrei.”

O maxilar dele apertou-se. “E porque estavas deitada aí?”

Beatriz encarou-o. O peito tremia, mas ela sustentou o olhar. “Porque estava exausta. Trabalhei desde o amanhecer. Não comi desde a manhã. Quando finalmente pararam de chorar, mantive-me perto caso acordassem. Não queria adormecer. Mas se tivesse de fazer de novo, faria. Eles sentiram-se seguros.”

Algo mudou na expressão de Duarte. A raiva dissipou-se, substituída por um peso. “O hematoma?” perguntou.

Beatriz tocou o rosto instintivamente. “Um dos teus convidados na festa da semana passada. Ele empurrou-me quando eu passava com uma bandeja. Caí. Ninguém reparou.” Ela hesitou. “Ou talvez ninguém se importasse.”

Duarte estacou. Lembrou-se daquela noite. O champanhe, as risadas, o ruído de negócios e conexões que ele não vira. Ou talvez não tivesse olhado. “Devias ter-me dito,” murmurou.

“Teria importado?” A voz dela quebrou. “Nem sequer os vês, Sr. Albuquerque. Não vês os teus filhos. Tudo o que eles têm sou eu. E até eu não sou nada aqui. Sou só a criada.”

O lume crepitou. O silêncio prolongou-se. Duarte virou-se para a janela, o reflexo pintado pela luz alaranjada, assombrado pelas memórias da falecida esposa e dos dias em que se enterrara no trabalho. Finalmente, disse: “Fica aqui.”

Saiu do escritório abruptamente. Beatriz ficou paralisada, incerta. Momentos depois, ele regressou com dois cobertores azuis do quarto das crianças. Sem uma palavra, ajoelhou-se— verdadeiramente ajoelhou-se— ao lado dos filhos. Com cuidado, cobriu os pequenos corpos.

Beatriz observou, a garganta apertada. Nunca o vira curvar-se assim, tão baixo, tão suave.

“Eles são mais pequenos do que me lembrava,” Duarte sussurrou. A mão pairou sobre as cabeças deles, tremendo, com medo de tocar.

“Eles precisam de ti,” disse Beatriz baixinho. “Não só do teu nome.”

Ele ergueEle olhou para ela, os olhos úmidos de culpa e gratidão, e pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se verdadeiramente em casa.

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