Diziam que nenhuma empregada sobrevivia um dia com os trigémeos do bilionário—nem uma. A mansão de Eduardo Costa, magnata do petróleo e um dos homens mais ricos do Porto, era bela como um palácio. Mas por trás dos portões imponentes e dos pisos de mármore polido, viviam três pequenos demónios: Tomás, Tiago e Teresa, trigémeos de seis anos com mais energia que um temporal e menos paciência que uma tarde de agosto.
Em menos de cinco meses, Eduardo contratara e perdido doze babysitters. Algumas fugiam em lágrimas, outras partiam com raiva, e uma jurou nunca mais pisar numa mansão. As crianças gritavam, faziam birras e destruíam tudo à sua volta. A mãe deles morrera ao dar à luz, e Eduardo, apesar de rico e poderoso, nunca soube lidar com o caos que criavam.
Até que chegou Inês Monteiro, uma viúva de 32 anos, pele morena, olhos serenos e uma mala de nylon debaixo do braço. Ela tinha um motivo para estar ali—a filha, Matilde, estava no hospital com um problema cardíaco, e Inês precisava do dinheiro para a salvar.
A governanta, cansada de treinar rabas que nunca ficavam, mal falou ao entregar-lhe o uniforme. “Começa na sala de brincar,” murmurou. “Vais ver.”
No momento em que Inês entrou, viu a destruição. Brinquedos espalhados pelo chão, sumo derramado nas paredes, e os trigémeos a saltar no sofá como se fosse um trampolim. Tomás atirou-lhe um camião de brincar. Teresa cruzou os braços e gritou: “Não gostamos de ti!” Tiago limitou-se a sorrir e virou uma caixa de cereais para o tapete.
A maioria das empregadas teria gritado, implorado ou fugido. Inês não fez nada disso. Apertou o lençó com calma, pegou num esfregão e começou a limpar. Os trigémeos congelaram por um instante, confusos. Ninguém gritava? Ninguém chorava? Apenas… limpava?
“Eh, tu devias parar-nos!” berrou Tomás. Inês olhou para ele, tranquila. “As crianças não param quando mandam. Param quando percebem que ninguém está a jogar o jogo delas.” E voltou a esfregar.
Lá em cima, Eduardo Costa observava da varanda, os olhos cinzentos a estreitarem-se. Vira muitas mulheres falharem naquela mesma sala. Mas havia algo diferente em Inês—algo inabalável na forma como se mantinha.
E se os trigémeos não tinham acabado, Inês também não.
Na manhã seguinte, ela acordara antes do amanhecer. Varreu a escadaria de mármore, endireitou as cortinas e preparou um tabuleiro de comida para as crianças. Mal o colocou na mesa, os trigémeos invadiram a cozinha como pequenos furacões.
Tomás subiu para uma cadeira e gritou: “Queremos gelado ao pequeno-almoço!” Teresa chutou a perna da mesa e cruzou os braços. Tiago pegou um copo de leite e derramou-o de propósito.
A maioria das mulheres teria entrado em pânico. Em vez disso, Inês olhou para eles com calma e disse: “Gelado não é para o pequeno-almoço, mas se comerem a vossa comida, talvez possamos fazer algum mais tarde, juntos.”
Os trigémeos pestanejaram, surpreendidos pela firmeza da sua voz. Inês não ralhou, não gritou. Apenas entregou-lhes os pratos e virou-lhes as costas, continuando o seu trabalho. Lentamente, a curiosidade venceu-os. Tomás espetou o garfo nos ovos. Teresa revirou os olhos, mas começou a mastigar. Até Tiago, o mais teimoso, sentou-se e deu uma trinca.
Ao meio-dia, a batalha recomeçou. Pintaram as paredes, esvaziaram os caixotes dos brinquedos, e Teresa escondeu os sapE quando Inês encontrou os sapatos no jardim, sorriu e disse aos trigémeos: “Amanhã, escondam melhor, que eu adoro uma boa caça ao tesouro.”





