Leonor ficou imóvel com um pequeno ancinho de madeira nas mãos, e os dedos se soltaram sozinhos de surpresa. A ferramenta caiu com um baque suave na terra seca e rachada. Ela nem teve tempo de suspirar — tão repentina e penetrante foi a voz que soou atrás dela. Parecia o rangido de uma árvore velha, mas havia uma certeza inabalável que fez um calafrio percorrer sua espinha.
“Na tua horta não cresce nada, menina, porque tens um defunto a visitar-te. Não o vês? Olha com atenção, filha,” disse uma velhinha desconhecida, fitando Leonor com olhos desbotados pelo tempo, mas incrivelmente perspicazes.
Leonor virou-se devagar, quase mecanicamente, e olhou pela primeira vez para aquele pedaço de terra à frente da sua casa nova, tão desejada. O coração apertou-se-lhe num sentimento estranho e inexplicável de melancolia. Ela via aquilo todos os dias, mas só agora percebeu o horror daquilo: um trecho completamente morto, ressequido, sem uma única erva ou sinal de vida. Enquanto isso, no jardim, rosas floresciam, os malmequeres esticavam-se para o sol e os pés de groselha verdejavam. O contraste era assustador e antinatural.
A velhinha, magra e curvada pelos anos mas não de espírito, observou-a com um olhar que mesclava severidade e pena.
“Pareces vestida para um baile, não para cavar a terra,” comentou, sem maldade mas com um traço de ironia, avaliando o fato de ginástica cor-de-rosa e as leggings de tecido tecnológico de Leonor.
Leonor baixou os olhos, envergonhada, mas a velha já se afastava, apoiada num cajado tosco, desaparecendo ao virar da estrada.
Nos dias seguintes, Leonor não conseguiu esquecer as palavras da mulher. E, numa noite abafada, quando se debruçou da varanda, viu-o: uma figura translúcida, de bigode antigo, a caminhar sobre a terra improdutiva. O terror gelou-lhe o sangue.
Decidiu procurar a velha. Encontrou-a numa aldeia próxima, numa casa humilde com janelas de madeira descascada. A pobreza do lugar comoveu-a.
“Toma,” disse a velha, entregando-lhe um embrulho amarrado com barbante. “Enterra isto no terreno. Em três dias, ele irá embora.”
Leonor seguiu as instruções. Aos poucos, a terra revivia. Grinalheiras e dente-de-leão brotaram, e ela chorou de alívio.
Quando voltou a visitar a velha, levou mantimentos e pequenos luxos domésticos. Mas, ao invés de gratidão, a velhinha confessou, com voz trêmula:
“Enganei-te. Fui eu quem o levou até ti. Não tenho nada… pensei que, se assustasses, me darias algum dinheiro.”
Leonor não se zangou. Ajoelhou-se, segurou as mãos nodosas da idosa e murmurou:
“Água nos ouvidos… não ouvi nada. Vamos pendurar estas cortinas novas?”
E, assim, a casa velha ganhou vida novamente, e a amizade entre as duas floresceu, mais forte que qualquer fantasma.





