Uma menina pediu ajuda ao homem mais assustador num bar de motoqueiros à meia-noite4 min de lectura

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Todos os motoqueiros de couro naquele quarto cheio de fumo ficaram em silêncio quando aquela menininha, vestida com pijama da Princesa da Disney, apareceu na porta, lágrimas escorrendo pelo rosto, encarando trinta motoqueiros durões como se fossem sua última esperança.

Ela foi direto ao Serpente, o presidente de um metro e noventa dos Lobos de Ferro, com rosto marcado e braços grossos como troncos. Puxando seu colete, ela soltou palavras que colocariam todo o clube em ação e revelariam o segredo mais sombrio da cidade.

“O homem mau trancou a Mamãe no porão e ela não acorda,” sussurrou. “Ele disse que se eu contasse a alguém, machucaria meu irmãozinho. Mas a Mamãe disse que os motoqueiros protegem as pessoas.”

Não a polícia. Nem os vizinhos. Nenhum dos “respeitáveis” da cidade. Aquela menina tinha ouvido da mãe que, se precisasse de ajuda de verdade, deveria procurar os motoqueiros.

Serpente agachou, ficando na altura dela, seu corpo enorme a fazendo parecer ainda menor. O bar inteiro prendeu a respiração.

“Qual é o teu nome, princesinha?” perguntou, com uma voz mais suave do que qualquer um ali já ouvira.

“Beatriz,” ela respondeu, e então soltou a frase que fez todos pegarem os telemóveis: “O homem mau é polícia. Por isso a Mamãe disse para só procurar os motoqueiros.”

Serpente levantou Beatriz como se ela não pesasse nada, segurando-a como um tesouro.

“Irmãos,” disse firme. “Montamos.”

Sem discussão. Sem votação. Uma criança pedira ajuda.

“Miúdo,” ordenou ao braço-direito, “leva cinco homens ao hospital. Diz que vamos levar uma mulher inconsciente, possível overdose ou envenenamento. Não deixem que liguem para ninguém até chegarmos.”

“Cão da Estrada, leva dez e varre os bairros. Cada casa, cada rua. Procuramos um porão—provavelmente de um tira.”

“O resto, comigo.”

Beatriz foi enrolada num casaco de couro, segura nos braços de Serpente. “Sabes dizer onde fica a casa, princesinha?”

Ela balançou a cabeça. “Não é a nossa casa. O homem mau levou-nos para outro sítio. Tem uma porta azul e uma caixa de correio partida.”

Trinta motores rugiram no estacionamento. O barulho devia ser assustador, mas Beatriz até sorriu.

“Isso é muita mota,” disse, admirada.

“Todas aqui para ajudar a ti e à tua mãe,” Serpente respondeu.

Dividimo-nos, percorrendo todos os bairros num raio de oito quilômetros. Um novato viu—porta azul, caixa de correio partida, vendedor da polícia na entrada.

“Encontrei,” avisou pelo rádio. “Casa do Agente Rui Madeira. Rua das Oliveiras, 447.”

Todos conheciam o nome. Madeira, o “herói da polícia” que sempre pegava o turno da noite, fazia horas extras e estava convenientemente presente em todas as grandes apreensões.

Invadimos a casa como um exército. Serpente, cauteloso, ligou primeiro ao advogado, posicionou homens no hospital e ordenou que tudo fosse filmado.

“Beatriz,” Serpente falou com delicadeza, “vamos salvar a tua mãe. Mas precisas de ficar com o Remendos. Ele vai levar-te para um sítio seguro.”

Remendos, o membro mais velho—um ex-combatente de setenta anos com barba de Pai Natal sob o couro—estendeu os braços. Beatriz foi sem medo.

O que encontramos naquele porão ainda me assombra.

Carla, a mãe de Beatriz, estava inconsciente num colchão, acorrentada a um cano. Mal respirava. Marcas frescas de agulha cobriam seus braços, mas Serpente, ex-socorrista, disse de cara: “Ela não é viciada. Estas injeções não foram feitas por ela.”

O bebê mencionado por Beatriz estava num remendo no canto, cerca de oito meses—assustado, com fome, mas ileso.

Libertamo-los. Documentámos tudo. Serpente carregou Carla pessoalmente enquanto eu levava o bebê. Quando os colocámos na carrinha, o Agente Madeira chegou.

Congelou ao nos ver. Ao ver suas vítimas. E então puxou a arma.

Trinta motoqueiros avançaram como um só.

“Eu não faria isso,” Serpente advertiu. “Já ligámos ao teu chefe. E à PJ. E à imprensa. Imagina o que vão descobrir quando revirarem os casos que manMadeira abaixou a arma e desabou no chão, chorando como um menino, enquanto a sirene da PJ ecoava ao longe, marcando o fim da história e o começo de uma nova vida para Beatriz e sua família.

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