Saíram para um jantar romântico… mas quando o homem viu a empregada de mesa, o seu coração parou. Era a sua ex-mulher, a mulher que ele tinha deixado para trás, sem nunca saber os sacrifícios que ela tinha feito para que ele se tornasse no homem bem-sucedido que era hoje.
Pedro Monteiro entrou no elegante restaurante iluminado por velas com a sua nova namorada, Inês. Trajava um fato impecavelmente ajustado, e ela agarrava-lhe o braço, com o seu vestido prateado a brilhar sob a luz suave.
—”Pedro, este sítio é perfeito” —disse Inês com um sorriso, enquanto eram conduzidos à mesa reservada.
Pedro olhou em redor com orgulho. Este era o tipo de lugar que agora podia frequentar sem hesitar — um dos restaurantes mais exclusivos do Porto.
Mas, ao sentar-se, o seu olhar fixou-se em alguém do outro lado da sala. Uma empregada, com um simples avental bege, movia-se silenciosamente entre as mesas, equilibrando pratos com destreza. O seu rosto estava ligeiramente inclinado, mas quando ergueu a cabeça por um instante, a respiração de Pedro cortou-se.
Não… não podia ser.
—”Pedro? Estás bem?” —perguntou Inês, notando a sua repentina rigidez.
Ele pestanejou, forçando um sorriso.
—”Sim, só… pensei ter visto alguém que conheço.”
Mas era ela. Marta.
A sua ex-mulher. A mulher de quem se tinha divorciado cinco anos antes, quando decidiu perseguir sonhos maiores — sonhos que, de facto, se tinham transformado em milhões, carros de luxo e apartamentos em arranha-céus.
Marta parecia mais magra agora, com o cabelo apanhado atrás. Não o viu — ou talvez fingiu não o ver. Limitou-se a deixar pratos numa mesa próxima, acenou educadamente aos clientes e afastou-se.
Inês falava sobre a sua próxima sessão fotográfica, sem perceber que Pedro não a ouvia. A sua mente divagava.
Por que estará ela a trabalhar aqui? Devia estar… noutro lugar. Sempre dizia que queria ser professora. Era inteligente. Tinha potencial.
Mas, ao observá-la a anotar um pedido noutra mesa, reparou numa coisa na sua postura: um cansaço silencioso — o tipo que não vem apenas de um turno longo, mas de anos carregando um peso pesado.
Pedro não conseguia desviar o olhar. O seu garfo permanecia intacto enquanto Inês ria suavemente da sua própria piada. Ele assentia distraidamente, a sua mente completamente noutro lugar. Cada passo de Marta no chão de madeira polida era como uma punhalada de memória, recordando-lhe as noites em que ela trabalhava em dois empregos para ele terminar o curso de gestão, as manhãs em que ela saltava o pequeno-almoço para que ele pudesse comer. Lembrou-se do envelope que ela lhe deslizou uma vez na mão — as suas poupanças de dar explicações, dizendo-lhe baixinho: “Vai e persegue o teu sonho. Eu fico bem.”
E depois ele tinha-a deixado.
A voz de Inês desvanecia-se ao fundo enquanto os pensamentos de Pedro ardiam. Reparou que as mãos de Marta tremiam ligeiramente ao carregar uma bandeja de taças de vinho. O seu sorriso para os clientes era educado mas cansado, não o radiante que ele conhecera outrora. E então, quando uma criança numa mesa próxima deixou cair acidentalmente a colher, Marta agachou-se para a apanhar e deu-lhe um sorriso caloroso — tão terno, tão maternal — que Pedro sentiu o peito apertar-se.
Estará ela a criar um filho? Sozinha?
A sua mente acelerou, a culpa devorou-o. Ela tinha dado tudo por ele, e ele tinha partido assim que o sucesso bateu à porta.
—”Pedro,” — disse Inês de novo, desta vez com mais firmeza. —”Estás a portar-te estranho. Conheces… aquela mulher?”
Ele engoliu em seco. —”É… alguém que conheci há muito tempo.”
Antes que Inês pudesse insistir, Marta virou-se, os seus olhos encontrando finalmente os dele. Por um breve momento, o tempo parou. Não houve raiva, nem palavras — apenas o reconhecimento silencioso de um passado que nunca tinha morrido de todo. Os seus lábios apertaram-se ligeiramente, depois desviou o olhar e continuou o seu trabalho como se nada tivesse acontecido.
Mas o mundo de Pedro tinha mudado. O tilintar das taças, a suave música de violino, as conversas de Inês — tudo se desfocou. A única coisa que ele conseguia ver era as costas cansadas de Marta enquanto ela desaparecia na cozinha.
Levantou-se de repente.
—”Pedro?” — exclamou Inês, surpreendida.
—”Preciso… de um momento.” — Empurrou a cadeira para trás e dirigiu-se para as portas da cozinha, com o coração a bater mais forte do que o fado que tocava ao fundo. Não sabia o que iria dizer, ou se ela sequer o queria ouvir.
Mas sabia uma coisa: naquela noite, durante um jantar à luz das velas destinado ao romance, tinha acabado de confrontar-se com o preço do seu sucesso — e com a mulher que o tinha pago.
E desta vez, não conseguia desviar o olhar.
Às vezes, o sucesso não tem valor quando deixamos para trás as pessoas que nos ajudaram a alcançá-lo. O verdadeiro triunfo está em reconhecer quem esteve connosco antes de termos tudo.





