**Diário Pessoal**
Saímos para um jantar romântico… mas quando o homem viu a empregada de mesa, o coração parou. Era a sua ex-mulher, a mulher que ele deixara para trás, sem nunca saber os sacrifícios que ela fizera para que ele se tornasse o homem bem-sucedido que era hoje.
Rui Almeida entrou no restaurante elegante, iluminado por velas, com a sua nova namorada, Carolina. Vestia um fato impecável, feito sob medida, e ela agarrava-se ao seu braço, com o vestido prateado a brilhar sob a luz suave.
—”Rui, este sítio é perfeito” — disse Carolina com um sorriso, enquanto os levavam à mesa reservada.
Rui olhou em volta, orgulhoso. Este era o tipo de lugar que agora podia frequentar sem hesitar — um dos restaurantes mais exclusivos da cidade.
Mas, ao sentar-se, o seu olhar congelou em alguém do outro lado da sala. Uma empregada, com um simples avental bege, movia-se silenciosamente entre as mesas, equilibrando pratos com destreza. O rosto dela estava ligeiramente inclinado, mas quando ergueu a cabeça por um instante, a respiração de Rui cortou-se.
Não… não podia ser.
—”Rui? Estás bem?” — perguntou Carolina, notando a sua rigidez repentina.
Ele pestanejou, forçando um sorriso.
—”Sim, só… pensei que reconheci alguém.”
Mas era ela. Ana.
A sua ex-mulher. A mulher de quem se divorciara cinco anos antes, quando decidiu perseguir sonhos maiores — sonhos que, de facto, se tornaram milhões, carros de luxo e apartamentos em arranha-céus.
Ana parecia mais magra agora, com o cabelo apanhado atrás. Não o vira — ou talvez fingira não o ver. Limitou-se a deixar pratos numa mesa próxima, acenou educadamente aos clientes e afastou-se.
Carolina falava sobre a sua próxima sessão de fotos, sem perceber que Rui não a ouvia. A mente dele acelerava.
Por que estará ela a trabalhar aqui? Devia estar… noutro lugar. Sempre dissera que queria ser professora. Era inteligente. Tinha potencial.
Mas, ao vê-la anotar um pedido noutra mesa, reparou algo na sua postura: um cansaço silencioso — o tipo que não vem apenas de um turno longo, mas de anos a carregar um peso pesado.
Rui não conseguia desviar o olhar. O garfo permanecia intacto enquanto Carolina ria baixinho da sua própria piada. Ele assentia distraído, a mente noutro lugar. Cada passo de Ana pelo chão de madeira polida parecia uma punhalada de memória, recordando-lhe as noites em que ela trabalhava em dois empregos para que ele terminasse o curso de gestão, as manhãs em que ela saltava o pequeno-almoço para que ele pudesse comer. Lembrou-se do envelope que ela uma vez lhe deslizou na mão — as suas economias de dar explicações, dizendo-lhe suavemente: “Vai e persegue o teu sonho. Eu fico bem.”
E depois ele deixara-a.
A voz de Carolina desvanecia-se ao fundo enquanto os pensamentos de Rui ardiam. Reparou que as mãos de Ana tremiam ligeiramente ao carregar uma bandeja de copos de vinho. O sorriso dela para os clientes era educado, mas cansado, não o radiante que ele conhecera. E então, quando uma criança numa mesa próxima deixou cair a colher, Ana agachou-se para a apanhar e ofereceu-lhe um sorriso terno — tão maternal — que Rui sentiu o peito apertar-se.
Terá ela criado um filho? Sozinha?
A mente dele acelerava, a culpa devorava-o. Ela dera-lhe tudo, e ele partira assim que o sucesso bateu à porta.
—”Rui” — disse Carolina novamente, desta vez mais firme. —”Estás a comportar-te de forma estranha. Conheces… aquela mulher?”
Ele engoliu em seco. —”É… alguém que conheci há muito tempo.”
Antes que Carolina insistisse, Ana virou-se, os olhos dela encontrando finalmente os dele. Por um breve instante, o tempo pareceu parar. Não houve raiva, nem palavras — apenas o reconhecimento silencioso de um passado que nunca morrera completamente. Os lábios dela apertaram-se levemente, depois desviou o olhar e continuou o trabalho como se nada tivesse acontecido.
Mas o mundo de Rui mudara. O tilintar das taças, a suave música de violino, o falar de Carolina — tudo se desfocava. A única coisa que via era as costas cansadas de Ana a desaparecer na cozinha.
Ergueu-se de repente.
—”Rui?” — exclamou Carolina, surpreendida.
—”Preciso de… um momento.” Empurrou a cadeira para trás e dirigiu-se às portas da cozinha, o coração a bater mais forte do que a orquestra que tocava ao fundo. Não sabia o que diria, ou se ela sequer o ouviria.
Mas sabia uma coisa: naquela noite, durante um jantar à luz das velas pensado para o romance, acabara de enfrentar o custo do seu sucesso — e a mulher que o pagara.
E desta vez, não conseguia desviar o olhar.





