O Mistério Revelado nos Olhos4 min de lectura

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O corredor paralisou. As risadas, antes tão altas e cruéis, morreram nas gargantas como se o ar tivesse sido sugado. Dezenas de olhos voltaram-se para Inês. E naquele instante, ela já não era a nova aluna quietinha. Seus olhos ardiam — não de lágrimas, nem de medo, mas de algo que parecia antigo, poderoso e assustador.

Por um momento, ninguém se mexeu. Até o Tiago, o autoproclamado rei da escola, hesitou. Seu sorriso vacilou, sua postura arrogante fraquejou. No fundo, algo nele percebeu: aquela rapariga era diferente.

Ele forçou uma risada para disfarçar o desconforto.
— “O que é que esse olhar quer dizer? Pensas que me assustas?”

Inês não respondeu logo. Em vez disso, alisou a saia com calma deliberada, as mãos firmes, a cabeça erguida. Quando finalmente falou, sua voz não era alta, mas cortava mais que um grito.

— “Prometi à minha mãe que não causaria problemas. Mas não me deixaste escolha, Tiago. Quiseste ver quem eu realmente sou…”

Um arrepio percorreu a multidão.

E então, algo aconteceu.

**O Despertar**
As luzes fluorescentes tremeluziram. Um frio estranho invadiu o corredor, embora todas as janelas estivessem fechadas. Os alunos aproximaram-se uns dos outros, sussurrando nervosos.

Inês fixou o Tiago, e pela primeira vez na vida, o valentão não aguentou o olhar. Havia algo insuportável no seu olhar, como se ela visse através da sua arrogância e encontrasse o rapaz frágil por trás.

Antes que alguém percebesse, uma onda moveu-se pelo ar. Livros caíram dos cacifos. O metal rangeu. O riso sumira — substituído por suspiros, gritos, o som de sapatilhas a recuar.

Inês não movera um músculo. Mas parecia que todo o corredor se curvava à sua presença.

Tiago tropeçou para trás, seu sorriso desaparecendo.
— “O… o que estás a fazer?”, exigiu, mas a voz falhou.

— “Avisaste”, respondeu Inês, simplesmente.

Suas palavras não foram gritadas, mas ecoaram no peito de todos como um trovão.

**Sombras do Passado**
Ninguém na escola sabia muito sobre Inês. Era a rapariga que mantinha a cabeça baixa, que mudava sempre de escola, que nunca levantava a mão na aula, mesmo sabendo a resposta. Os professores tinham pena dela; os alunos ignoravam-na.

Mas por trás do silêncio, havia uma história que ela nunca contara.

Inês vivera tempestades maiores do que a crueldade do Tiago. Vira coisas que a maioria nem sonhava. O seu pai, um homem de génio rápido como um relâmpago, ensinara-lhe o medo cedo. A mãe, frágil mas corajosa, fora o seu escudo — até uma noite em que tudo mudou.

Os hematomas, os gritos, os vidros partidos… Inês lembrava-se de tudo. E lembrava-se do momento em que percebeu que algo dentro dela era diferente. Algo que até a mãe assustara.

Não era só coragem. Não era só teimosia. Era uma força sem nome — que crescia sempre que era encurralada, sempre que alguém tentava esmagá-la.

A mãe fizera-a prometer: *”Não reveles. Não deixes o mundo ver. Eles não entenderiam.”*

Durante anos, Inês cumpriu essa promessa. Até agora.

**O Confronto**
O silêncio esticou-se, pesado e sufocante. Os amigos do Tiago, que normalmente o rodeavam como guarda-costas, mexeram-se desconfortáveis. Um deles sussurrou: “Ó pá, melhor recuar…”, mas Tiago mandou-o calar.

Não podia perder o respeito. Não ali. Não na frente de todos.

— “Pensas que és especial, Inês? Não és nada. Só mais uma fraca e patética—”

Não terminou. Os cacifos atrás dele abriram-se violentamente, um após outro, como um dominó. Papéis voaram pelo ar, rodopiando como num vendaval sem vento.

Gritos e exclamações explodiram. Alguns fugiram. Outros ficaram, paralisados pelo fascínio mórbido.

Inês não levantara as mãos. Não dissera nada. Mas a sua presença enchera o espaço como uma nuvem prestes a rebentar.

— “Não quero magoar ninguém”, disse suavemente. “Mas precisas de parar.”

A voz era calma, quase doce — e era isso que a tornava aterrorizante.

Tiago tentou zombar, mas o suor escorria-lhe pela testa. Os punhos, antes tão prontos para bater, tremiam agora. O rei do corredor desmoronava.

**A Queda**
Durante anos, Tiago governara pelo medo. Alimentava-se do silêncio dos outros, das cabeças baixas, da falta de resistência. Gozava, empurrava, humilhava — e ninguém ousava reagir.

Mas agora o silêncio não era a sua arma. Era o dela.

Dúzias de alunos parados, sem rir, sem aplaudir, sem se mexerem. Já não estavam do lado do Tiago. Os olhos voltavam-se para Inês.

E pela primeira vez, Tiago percebeu que estava sozinho.

— “Tu… tu és maluca”, murmurou, recuando em direção à parede.

Inês não o perseguiu. Não precisava. Apenas manteve o olhar, firme e impassível.

As luzes zumbiram, depois estabilizaram. Os papéis assE, naquele momento, Inês percebeu que às vezes a maior força não está em gritar, mas em permanecer inabalável.

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