Eu e o meu namorado, João, estávamos sentados num banco do Jardim da Estrela, em Lisboa. Era um dia quente de verão, com pessoas a passear e crianças a brincar sob o sol dourado. Tudo parecia tranquilo, até que algo inesperado aconteceu.
De repente, uma cadela vira-lata aproximou-se de nós. Parou a poucos passos, olhando-nos fixamente com os seus olhos castanhos e alerta. Pensámos que fosse apenas mais uma das muitas cães sem dono da cidade, à procura de comida ou carinho. O João fez um gesto para a afastar, mas ela não se mexeu.
Continuou a ladrar, avançando e recuando, como se tentasse chamar a nossa atenção. O barulho tornou-se irritante, ecoando entre as árvores do jardim. De repente, a cadela saltou para cima de mim, apoiando as patas dianteiras no meu colo. Assustei-me e gritei, pedindo ao João que a afastasse, mas ela recuou, rodopiou à nossa volta e começou a ladrar ainda mais.
Houve algo no seu comportamento que nos fez hesitar. Não era agressiva, mas parecia desesperada por ajudar. Sentava-se, levantava-se, dava alguns passos e olhava para trás, como se nos quisesse levar a algum lugar.
Foi então que aconteceu. Num movimento rápido, ela agarrou a minha bolsa, que estava ao meu lado no banco, e saiu a correr. Gritei—lá dentro estava o meu telemóvel, a carteira com os meus documentos e algum dinheiro. Sem pensar, eu e o João corremos atrás dela.
O coração batia-me forte no peito, mas rapidamente percebemos que ela não estava a fugir para nos roubar. De vez em quando, olhava para trás, certificando-se de que a seguíamos, e, se nos atrasávamos, parava e ladrava antes de continuar.
Corremos por becos estreitos, até que a cadela entrou numa viela escura entre prédios antigos. Lá, parou e depositou a bolsa no chão com cuidado, ofegante. Agarrei-a, mas o meu alívio durou pouco—quando olhei em frente, vi algo horrível.
Junto a um caixote do lixo verde, um pequeno cachorrinho estava caído, a gemer baixinho. Uma das suas patas estava torcida, e ele mal se mexia. Tudo fez sentido—aquela cadela era a mãe, e tinha feito tudo para nos trazer até ali.
Sem hesitar, pegámos no cachorro e corremos para a clínica veterinária mais próxima. A mãe seguiu-nos de perto, os seus olhos cheios de medo e esperança. Enquanto os veterinários tratavam do filhote, ela ficou à porta, imóvel, à espera.
Naquele momento, percebemos que não se tratava apenas de uma cadela de rua—era uma mãe disposta a qualquer coisa para salvar o seu bebé. Nunca esquecerei o amor e a coragem que vi nela naquele dia.





