João Monteiro nunca carregou malas, não para ninguém. No entanto, naquela manhã, sob a luz fria do aeroporto de Lisboa, ele segurava casualmente a bolsa de designer de Sofia sobre o braço. Para ele, era um gesto banal, de conveniência, não de devoção. Mas cada passo que dava no chão de mármore polido ecoava de forma diferente. Sofia caminhava ao seu lado, esbelta e graciosa, com seu vestido bege balançando suavemente enquanto ajustava os óculos escuros. Seu sorriso era pequeno, íntimo, o tipo que uma amante usa quando acredita que finalmente venceu.
Ele não olhava para ela. Não precisava. O fato de segurar sua bolsa era resposta suficiente.
O terminal luxuoso fervilhava ao redor, executivos apressados, funcionários impecáveis verificando passaportes, e a música ambiente se misturando aos anúncios de voos. Um jato particular os aguardava, mas Sofia insistiu em passar pelo saguão de embarque. Queria ser vista com ele.
João não objetou. Por que o faria? Pela primeira vez, sentia-se no controle de sua própria narrativa — até que deixou de ser. Tudo aconteceu em segundos. Primeiro, o silêncio. Depois, o peso dos olhares quando estranhos pararam de se mover. Conversas foram interrompidas no meio.
Celulares foram erguidos, não para chamadas, mas para fotos. João seguiu seus olhares instintivamente. No final do terminal, imóvel no meio do caos matinal, estava Catarina, sua esposa. Sem maquiagem, o rosto pálido de cansaço, os olhos mais escuros do que ele lembrava.
Mas o que João viu por último não foi o rosto dela. Foram as quatro crianças pequenas agrupadas em volta dela. Quatro meninos, idênticos, cada um segurando firmemente sua saia. Seus casacos combinando, fantasmas no chão polido. Seus quadrigêmeos. A mão de João abriu-se reflexivamente. A bolsa de Sofia escorregou de seus dedos, caindo com um barulho muito mais alto do que seu peso justificava.
Sua boca moveu-se, mas nenhuma palavra saiu. Suor escorria sob seu terno caro. O tempo parou.
Catarina não se moveu. Não falou. Apenas olhou através dele, não para ele.
Sua expressão não era de raiva. Era pior: era pena. Flash.
A primeira câmera capturou. Depois outra. E mais outra.
Passageiros que antes invejavam João Monteiro agora registravam sua queda, frame por frame, em alta definição. “João”, Sofia sussurrou, a voz falhando. Ele não a ouviu. Seus pés não se mexiam.
Sua mente girava, repetindo conversas, desculpas, planos. Nada se encaixava naquele momento. Nenhum contingente o preparara para ver Catarina ali, com a prova de sua negligência segurando suas mãos trêmulas.
As crianças olharam para ele, confusas. Um dos meninos apontou com um dedo gordinho, puxando a manga de Catarina. “Papai?” Catarina estremeceu.
O estômago de João revirou. As pessoas sussurravam agora.
Os celulares se inclinavam para melhores ângulos. Os sussurros viraram murmúrios. Então perguntas audíveis: “É a esposa dele?” “São filhos dele?” “Quem é a mulher com ele?” Sofia deu um passo para trás, como se a distância física apagasse sua participação.
Ela olhou de Catarina para João e de volta, os lábios trêmulos. Percebeu tarde demais o que todos já entendiam. Ela não era a mulher a quem João pertencia. Era a prova de sua traição.
“João”, sua voz quebrou como a de um homem que não reconhecia o próprio nome. Catarina finalmente se moveu. Passos lentos e deliberados em sua direção. Não para fechar a distância, mas para feri-lo com cada centímetro de sua compostura. As crianças a seguiram, passos desiguais, hesitantes. O coração de João batia forte contra as costelas, desesperado, inútil.
Catarina parou a centímetros dele. Sua voz era quase um sussurro, mas cada sílaba o cortava. “É para ela que você carregava?” Ela não esperou por uma resposta. Não precisava. Virou-se para as crianças, ergueu o menor no colo, como para protegê-lo. E então partiu.
Direto por João, por Sofia, pelos repórteres se aglomerando na entrada. João a viu ir-se, incapaz de segui-la. E num canto da multidão, a voz de um repórter cortou o silêncio: “João Monteiro, você pode explicar?” Mas ele não podia. Porque como explicar carregar a bolsa da mulher errada quando sua vida real acabara de passar por ele segurando seu legado? Os flashes continuaram, mas João já não os via.
Nem mesmo quando as primeiras lágrimas caíram. João não se moveu. Não quando Catarina passou por ele. Não quando os flashes ficaram cegantes. Não quando alguém chamou seu nome pelos alto-falantes do aeroporto. Só quando o primeiro repórter se aproximou, empurrando um microfone em seu rosto, ele piscou.
“João Monteiro, esses são seus filhos? Quem é a mulher com você? Seu casamento acabou?” Ele abriu a boca, mas sua garganta estava seca, estrangulada pelo pânico.
Seus olhos procuraram Catarina desesperadamente, mas ela já estava à frente, carregando um dos meninos, guiando os outros adiante, seus rostinhos confusos e cansados. “Catarina, espera”, sua voz falhou. Ela não parou. Em vez disso, deteve-se, virou-se deliberadamente e encarou o mar de câmeras.
Sua voz era calma. Firme. Inabalável.
“Eu sou Catarina Monteiro”, disse suavemente, mas o silêncio era tão denso que suas palavras ecoaram. “E esses são os filhos que João esqueceu.”
A frase explodiu. Para a imprensa. Para os estranhos. Para o próprio João. Os flashes dispararam sem parar. Até os anúncios automáticos do aeroporto pareceram pausar, como se o próprio prédio estivesse ouvindo.
João tentou avançar, mas seguranças, alertados pela multidão, se interpuseram. Sua mão esticou-se para Catarina. Suplicante. Desesperado. Mas ele só pegou ar vazio.
Sua esposa olhou-o nos olhos e depois para os seguranças ao seu lado. “Por favor, me acompanhem até a saída com meus filhos.” Ela não gritou. Não implorou. Ordenou.
Os seguranças hesitaram apenas um instante antes de obedecer, reconhecendo não o bilionário, mas a mulher cuja dor comandava respeito.
“Catarina, deixa eu explicar”, sua voz estava rouca, vazia. Ela se aproximou mais uma vez, parando a seu alcance. As crianças agarravam-se a seu vestido. João mal respirava. Então ela inclinou-se, os lábios perto de seu ouvido, a voz quase inaudível sob o barulho das câmeras.
“Eles vão se lembrar do homem que nunca os carregou”, sussurrou. “Não do que carregou a bolsa dela.”
E então se afastou. João cambaleou. “Catarina!”
Mas ela já se fora. Os seguranças a cercaram, protegendo-a do caos enquanto abriam caminho na multidão. As pequenas figuras das crianças desapareceram entre luzes e celulares erguidos.
A mente de João gritava. Seu corpo permanecia paralisado. Em volta, as perguntas continuavam, mais altas, mais famintas. “Senhor Monteiro, você nega a paternidade?” “Sua empresa está em risco?” “Essa é sua amante?”
Esta última pergunta o sacudiu. Ele virou-se bruscamente. “Sofia”. Procurou-a, frenético. Mas o lugar onde ela estivera minutos atrás estava vazio. Nenhum vestido bege. NJoão olhou para a bolsa esquecida no chão, e pela primeira vez em sua vida, entendeu que nenhum império valia o peso de um amor perdido.