Descobri que meus pais foram expulsos de casa e viviam na garagem

**Domingo, 3 de Abril**

Achei que ia surpreender os meus pais na Páscoa com flores e chocolates—mas o que encontrei deixou-me sem palavras. A minha irmã tinha-os expulsado de casa e obrigado a viver na garagem, como se fossem sem-abrigo.

Crescemos numa família feliz. As férias eram sempre em família, na praia da Nazaré ou na serra da Estrela. A minha irmã, Inês? Ela é dois anos mais velha. Barulhenta, dramática, sempre metida em problemas. É como o sol—pode sorrir enquanto arruína a tua vida.

Este ano, decidi surpreender os meus pais para a Páscoa. Mas quando cheguei à casa deles… nada.

Fiquei parado, confuso. Talvez tivessem saído? Mas eles nunca saem na Páscoa. Bati à porta. Ninguém respondeu. Ainda tinha a minha chave antiga, então entrei.

A mobília estava toda diferente. As fotografias de família tinham desaparecido. O que se passava ali?

Foi quando ouvi a voz dela. A Inês.

“Espera, não me disseste que a tua irmã vinha.”

Um homem riu-se. “Ah, a menina perfeita? Ela vai-se embora antes do amanhã.”

Não sabia o que procurava, mas depois vi a luz a filtrar-se pela janela da garagem. Abri a porta lentamente. E lá estavam eles.

O meu pai estava sentado num banco, a arranjar a dobradiça de um armário velho. A minha mãe estava numa cadeira dobrável, com o casaco de inverno vestido dentro de casa.

“Oh,” disse ela, suave. “Filho.”

“Quê? O que é isto?”

Ela baixou os olhos. “É temporário.”

O meu pai nem levantou a cabeça. “A tua mãe está com frio. Disse-lhe para usar luvas.”

“Porque estão aqui?” A minha voz falhou. “O que aconteceu?”

Olharam um para o outro. Depois, a minha mãe disse: “Não é nada. A Inês e o Rui só precisaram de espaço.”

“Na vossa casa?”

“Eles estão a arranjar algumas coisas,” sussurrou a minha mãe. “Só por um tempo.”

Olhei para ela e disse, baixinho: “Fazem as malas. Volto dentro de uma hora.”

Ela pestanejou. “O quê?”

“Ouviste.”

O meu pai largou a chave de fendas. “Para onde vamos?”

“Não vão passar mais uma noite nesta garagem.”

Dez minutos depois, levei-os para o melhor hotel de Lisboa.

“Um quarto, duas camas, uma semana completa,” disse na receção.

Voltei à garagem com o cartão do hotel e um sorriso.

“Vamos,” disse.

Assim que os deixei confortáveis, com lençóis limpos, aquecimento e televisão, fui para o meu quarto e abri o portátil.

Sou gestor de contratos. A Inês pode gostar de jogos, mas eu jogo pelas regras.

Primeiro, reuni todos os documentos digitais da família—os meus pais guardam cópias numa pen velha. No dia seguinte, a minha mãe e eu voltámos à garagem e abrimos o arquivo trancado. Os olhos dela abriram-se.

“Está tudo bem,” assegurei. “Confia em mim.”

Lá dentro, estava tudo o que precisava: registos da propriedade, declarações fiscais, apólices de seguro. E a escritura da casa.

O nome da Inês? Em lado nenhum. Só do meu pai e da minha mãe. Ou seja, a Inês? Legalmente, era apenas uma convidada. E convidados podem ser convidados a sair.

Mandei uma mensagem à Inês.

“Oi. Queres almoçar amanhã? Só nós?”

“Espera. A sério? Não estás zangado?”

“Não. Pensei melhor. Devíamos conversar.”

Ela apareceu no café com um casaco bege e batom a mais.

“Estou tão contenta que tenhas falado comigo. Sei que tem sido tenso, mas acho que finalmente estamos na mesma página.”

Sorri. “Acho que sim.”

Pedimos. Deixei-a falar. Sobre a casa. Sobre as “obras.” Sobre como era difícil ser “a única que se esforça.”

Esperei até ela comer metade do prato antes de dizer: “Sabes… talvez tenhas razão. Talvez os pais precisem mesmo de ajuda. De alguma estrutura.”

Os olhos dela brilharam. “Exatamente! É o que tenho tentado dizer!”

“Até falei com alguns agentes imobiliários,” disse, puxando do telemóvel. “Se vendermos a casa, podemos usar o dinheiro para ajudá-los—e talvez até tu e o Rui arranjarem um lugar vosso.”

Ela inclinou-se. “Sabia que ias crescer.”

“Ah, e gravei esta conversa toda.”

Depois, levantei-me, deixei vinte euros na mesa e saí sem olhar para trás.

Três dias depois, voltei com uma ordem de despejo—e com a polícia.

O Rui abriu a porta, vestindo o roupão do meu pai, como se fosse dono do lugar.

“Perdeste-te, querida?”

Mostrei-lhe os papéis. “Não. Mas vocês vão perder—a casa.”

A Inês apareceu atrás dele, o sorriso a desaparecer assim que viu o que eu trazia.

“Isto não pode ser a sério,” disse.

“Oh, é muito a sério.”

“O teu nome não está na escritura. Não estás no contrato. És uma convidada. E convidados não mandam.”

O Rui riu-se, arrogante. “Não podes expulsar família.”

Foi quando o agente avançou e disse: “Na verdade, foram notificados. Recomendo que leiam os documentos.”

Os dois calaram-se.

Naquela tarde, o meu pai chamou-me à parte e entregou-me uma pasta. Dentro estava a escritura da casa.

“Se alguma coisa nos acontecer,” disse ele, “isto é teu. Foste o único que voltou.”

Abracei-o, e por um momento nenhum de nós disse nada. Não era preciso.

Quanto à Inês?

Agora é sem-abrigo, a saltar de casa em casa de amigos que ainda lhe falam. Diz que nós “viramos as costas.” Que nós “roubámos o futuro dela.”

Aquela Páscoa terminou com uma mesa cheia de doces tradicionais, cebolinhas num vaso e as risadas de volta a casa. Finalmente, parecia um lar outra vez.

**Lição:** O sangue pode ser mais espesso que a água, mas a justiça não tem preço. E, no fim, quem cuida dos seus, nunca fica sem abrigo.

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