A empregada humilhada… que na verdade era a dona da mansão.

Todas as manhãs, às seis em ponto, Leonor percorria os corredores imponentes da mansão Almeida, com os cabelos presos sob uma faixa branca e o uniforme negro impecavelmente passado. Movia-se em silêncio, metódica, lustrando candelabros, esfregando os pisos de mármore e limpando o pó dos retratos de aristocratas mortos há muito tempo, que a observavam de cima como se ela não pertencesse àquele lugar.

Para os hóspedes —e até para alguns residentes permanentes— Leonor era invisível. Apenas uma empregada, ali para limpar a bagunça alheia. Mas o que ninguém sabia —o que ela guardava em segredo há mais de um ano— era que Leonor Santos não era apenas uma faxineira. Era a verdadeira dona da mansão Almeida.

A propriedade pertencera ao seu falecido marido, Afonso Almeida III, um bilionário solitário cuja morte súbita por ataque cardíaco chocou a alta sociedade. No testamento, ele deixara tudo para Leonor —sua esposa por apenas dois anos, vista por muitos como um capricho, um caso passageiro, um escândalo.

Para se proteger —e proteger a mansão— de parentes gananciosos e investidores traiçoeiros, Leonor manteve a herança em segredo enquanto a situação legal se resolvia. E, enquanto isso, permaneceu no único lugar onde ninguém suspeitaria encontrá-la: entre a equipe de serviço.

Capítulo 2: A Provocação dos Hóspedes
—Credo, ela ainda está aqui? —zombou Iara, os saltos ecoando no chão ao entrar no hall—. Juro que fica mais devagar a cada dia.
Leonor baixou os olhos e passou o pano suavemente pelo parquê.
—Cheira a água sanitária e sabão barato —sussurrou Tânia com sarcasmo—. Ela não sabe que isto é uma mansão e não um banheiro público?
As três riram —Iara, Tânia e Madalena. Três mimadas arrogantes que viviam na propriedade desde a morte de Afonso, fingindo que pertenciam ao lugar, esperando arrancar um pedaço da fortuna que sobrou.

E havia Evaristo —alto, arrogante, sempre de terno impecável, com os olhos fixos no seu objetivo. Um sobrinho distante de Afonso que se achava o legítimo herdeiro.
—Logo vamos esvaziar este lugar —sussurrou certa vez a Madalena, sem perceber que Leonor estava na sala ao lado.

Leonor nunca respondia às provocações. Não precisava. Cada insulto, cada comentário sarcástico só a fortalecia. Porque eles não faziam ideia de quem estavam humilhando.

Capítulo 3: O Baile de Gala Anual
Tudo mudou no Baile de Gala anual dos Almeida. A mansão fervilhava. Políticos poderosos, celebridades e herdeiros de dinastias antigas desfilavam pelo salão principal em meio a lustres e flores. A equipe, elegantemente vestida, servia champanhe e canapés.

Leonor, como sempre, mantinha-se discreta, coordenando tudo com eficiência silenciosa.

Até que Evaristo decidiu transformá-la no alvo da noite. No meio do salão, cercado por convidados curiosos, chamou-a com um gesto imponente.
—Tens uma mancha aqui —disse com falsa preocupação, apontando para o chão impecável. A plateia riu.

Leonor assentiu educadamente e ajoelhou-se para limpar.
Evaristo sorriu, soberbo.
—Talvez devêssemos cobrar ingresso para vê-la limpar. Acham? Um entretenimento ao vivo!
Iara bateu palmas.
—Dêem-lhe um aumento! De invisível a quase visível.

As gargalhadas ecoaram pelo salão.

Lentamente, Leonor ergueu-se.
—Chega —disse, baixo, mas firme.

Evaristo pestanejou.
—O que disseste?

Leonor tirou o avental, dobrou-o com cuidado e colocou-o sobre uma mesa.
—Suportei tua arrogância por tempo demais —continuou—. Insultas-me, zombas de mim, falas como se fosses dono desta casa. Mas não és.

O salão emudeceu.
—Estás despedido, Evaristo —disse, fitando-o nos olhos.

Madalena riu, nervosa.
—Não podes despedir ninguém, se és só uma—

—Sou Leonor Almeida —a voz dela ecoou como um trovão—. A legítima herdeira e dona desta mansão.

Um murmúrio varreu a sala.

Evaristo empalideceu.
—Isso… é impossível. Afonso nunca—

Leonor tirou um documento dobrado do bolso e entregou-o ao convidado mais próximo —que, por sorte, era um advogado.

O homem leu rapidamente, erguendo as sobrancelhas.
—É autêntico. Afonso deixou toda a propriedade, incluindo todos os bens, à sua esposa Leonor.

O rosto de Evaristo perdeu a cor.

Com um gesto de Leonor, os seguranças aproximaram-se.
—Por favor, acompanhem-no e aos seus amigos até à saída.

—Mentiste-nos! —gritou Tânia, a voz a tremer.

—Não —respondeu Leonor com calma—. Apenas deixei que mostrassem quem realmente eram.

Capítulo 4: A Solidão da Dona
Naquela noite, quando as luzes se apagaram e o último convidado partiu, Leonor ficou sozinha no grande salão—não mais como a mulher da limpeza. Mas como a dona de tudo.

Mas a guerra estava longe de terminar. Evaristo não desistiria tão fácil.

E Leonor sabia: isto não era o fim.

Capítulo 5: A Resistência de Evaristo
Na manhã seguinte, Leonor acordou decidida a enfrentar o que viesse. Sabia que Evaristo tentaria recuperar o que julgava seu. Enquanto preparava o café, ouviu uma batida na porta. Era um dos advogados da família Almeida.
—Senhora Almeida, precisamos conversar —disse o homem, sério.

Leonor conduziu-o à sala, onde o cheiro do café fresco dominava o ar.
—Evaristo esteve a falar com alguns investidores da propriedade —continuou o advogado—. Está a tentar convencê-los de que não tens direito à mansão.

Leonor franziu a testa. Sabia que Evaristo tinha influência e que usaria isso contra ela.
—Não posso permitir isso. Preciso proteger o que é meu.

O advogado concordou.
—Podemos entrar com uma ação para reafirmar os teus direitos, mas precisamos de provas sólidas.

Leonor pensou. Havia algo que podia fazer.

Capítulo 6: A Estratégia de Leonor
Decidiu investigar o passado de Evaristo. Se houvesse algo que o comprometesse, encontraria. Passou dias revistando documentos e falando com antigos empregados.

Num baú no sótão, encontrou cartas e fotografias antigas. Entre elas, mensagens de Afonso à família, mencionando o comportamento instável de Evaristo.

Leonor sorriu. Tinha uma arma. Se provasse que Evaristo era indigno de confiança, enfraqueceria sua posição.

Capítulo 7: O Confronto
Com as provas em mãos, Leonor reuniu os investidores. Sabia que duvidavam dela, mas estava pronta.

Evaristo chegou, arrogante como sempre, mas Leonor apresentou as cartas de Afonso.
—Este homem não merece confiança —disse, firme—. Quer roubar o que é meu.

Os investidores trocaram olhares desconfortáveis.
—Por que devemos acreditar em ti? —perguntou um deles.

Leonor inspirou fundo.
—Porque sou Leonor Almeida. Esta é a minha casa. NãoE, enquanto os primeiros raios de sol iluminavam os jardins da mansão, Leonor sorriu, sabendo que, finalmente, havia encontrado não apenas a sua herança, mas também a sua liberdade.

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