Ela Sofreu Sete Facadas Para Salvar Um Soldado — No Dia Seguinte, Os Fuzileiros Estavam à Sua Porta4 min de lectura

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Nunca imaginei que uma caminhada noturna a voltar para casa se transformasse numa luta pela vida de alguém—quanto mais pela minha. Mas a vida não espera que pensemos; arrasta-nos para o meio da história sem aviso.

Eram pouco mais de 23h, as ruas ainda molhadas de uma chuva recente, quando o vi—
um jovem fuzileiro com o uniforme azul-marinho, encostado a uma parede de tijolo sob um candeeiro a piscar. O quepe desaparecera, a perna dobrada num ângulo que me revirou o estômago, sangue a encharcar o tecido escuro.

«Está bem?», gritei.

Ele ergueu a cabeça devagar, os vidros embaciados. «Um carro… atropelou-me,» respondeu, com voz rouca. Antes que pudesse sequer pegar no telemóvel, sombras surgiram do beco—três homens a avançar rápido, rostos duros, facas a reluzir.

**A Luta**
Não tinha plano. Nem tempo para sentir medo. Sabia apenas que, fosse o que fosse que ia acontecer, não deixaria que lhe fizessem mal.

«Afastem-se!», gritei, colocando-me entre eles e o fuzileiro. Um deles riu-se, baixo e cruel.

Tudo foi um borrão a partir daí—mãos a agarrarem, metal a brilhar, os meus punhos a esmurrarem sem rumo. Lembro-me da primeira facada como um soco profundo nas costelas, a segunda um ardor rasgando o braço. Quando a sétima me atingiu, o corpo já escorria sangue e adrenalina, mas continuava de pé, impedindo-os de o alcançar.

Atrás de mim, a voz do fuzileiro quebrou, desesperada: «Não… me deixes.»

Então vieram as sirenes, o vermelho e azul a reflectir-se no asfalto molhado. Os homens fugiram. Os meus joelhos cederam. O mundo inclinou-se.

**O Hospital**
Acordei com cheiro a antisséptico e o som monótono das máquinas. O torso ardia como se envolvido em chamas. O braço direito estava rígido sob camadas de gaze.

«Teve sorte,» disse a enfermeira, ajustando o soro. «Sete feridas, mas nenhuma fatal. Vai recuperar.»

Tentei perguntar pelo fuzileiro, mas a garganta estava seca. Ela sorriu. «Ele está vivo. E… tem visitas.»

A porta abriu-se.

**A Formação**
Encheram o quarto como o mar invade a praia—uma unidade inteira de fuzileiros, de azul-marinho, em posição de sentido. Botas engraxadas como espelhos, luvas brancas contrastando com as mangas azuis.

À frente deles, um oficial alto com galões prateados no colarinho. Ao lado, numa cadeira de rodas, estava o fuzileiro daquela noite—a perna imobilizada, olhos cansados mas ardendo de algo intenso.

O oficial avançou. «Minha senhora,» começou, voz carregada de formalidade e emoção, «sou o Tenente-Coronel Silva, comandante do Batalhão de Fuzileiros Nº2. Este é o Furriel Diogo Martins, o homem a quem salvou a vida.»

Engoli em seco, sem palavras.

**A Condecoração**
Silva tirou do bolso uma pequena caixa de veludo. «O Comandante-Geral pediu-me que lhe entregasse isto—em nome de todos os que já vestiram este uniforme.»

Dentro estava uma medalha—não militar, mas algo que chamavam de *Espírito dos Fuzileiros*, raramente dado a um civil. Um disco de bronze gravado com o emblema dos Fuzileiros e as palavras *Sempre Leais*.

«Não tinha de intervir,» disse Silva. «Não tinha de levar aquelas facadas. Mas fez-o. E, ao fazê-lo, personificou o valor mais elevado que defendemos—lealdade. Uns para com os outros. Para com a missão. Para com o irmão ou irmã ao nosso lado, custe o que custar.»

Senti as lágrimas queimarem. «Eu… não consegui virar as costas,» sussurrei.

**A Promessa**
Diogo aproximou-se na cadeira, as mãos a tremer. «Disseram-me que desmaiaria antes da ajuda chegar. Não deixou que isso acontecesse.» Os olhos dele prenderam os meus. «Levou essas facadas por mim. Devo-lhe a vida.»

Abanei a cabeça, mas ele continuou. «Nós não esquecemos. Os Fuzileiros nunca esquecem.»

Silva fez um sinal à unidade e, em uníssono, ergueram a mão numa saudação. O som das botas a baterem no chão foi preciso, respeitoso.

**Depois**
A história espalhou-se—nos jornais locais, depois nacionais. Chamaram-me heroína. Não me senti como uma. Para mim, heróis eram os que se alistavam para a guerra, os que carregavam o peso do serviço todos os dias.

Mas os Fuzileiros não me deixaram—visitaram-me durante a recuperação, trouxeram comida, até arranjaram os degraus da minha varanda. Diogo vinha todas as semanas, até tirar a tala. E depois continuou.

No dia em que me removeram os pontos, trouxe-me algo mais: a sua moeda de desafio. «Para não esquecer,» disse, simplesmente.

**Epílogo**
Meses depois, estava num baile dos Fuzileiros, vestido preto simples, a medalha pendurada no pescoço. Do outro lado da sala, Diogo ria-se com a unidade, são e salvo.

Pensei naquela noite, nas facas, na dor, no sangue. Pensei em como uma decisão de segundos ligara a minha vida à deles para sempre.

Quando Silva me encontrou, disse: «Agora és família. Não por sangue, mas por batalha.»

E enquanto os Fuzileiros brindavam, copos erguidos, percebi: família não é só aqueles com quem nascemos. Às vezes, é aqueles por quem estamos dispostos a sangrar.

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