Ela Chamou Meu Filho de ‘Mentiroso Patológico’ por Falar do Pai… Até a Carreata Chegar. A Cara Dela Quando Entrei? Inesquecível.6 min de lectura

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**Parte 1: A Chegada**
**Capítulo 1: A Chamada Que Parou o Estado-Maior**

Já enfrentei insurgentes nos becos poeirentos de Áfghanistão. Negociei com senhores da guerra nas montanhas geladas do Cáucaso. Segurei as mãos de homens muito melhores do que eu enquanto o mundo ardia ao nosso redor.

Mas nada—absolutamente nada—me assusta mais do que ver o nome do meu filho aparecer no meu telefone seguro durante um briefing confidencial.

O Tomás tem dez anos. É quieto, discreto. Gosta de desenhar, adora história militar e esforça-se mais do que qualquer miúdo que eu conheça para passar despercebido.

Por isso, quando a secretária da diretora do Colégio São Domingos—uma das escolas privadas mais prestigiadas de Lisboa—me ligou às 10h de uma terça-feira, o meu estômago caiu mais depressa do que um paraquedista que esqueceu o cabo de abertura.

A sala estava cheia de coronéis e analistas estratégicos. Levantei a mão, silenciando a sala.

“Sousa,” atendi.

“Sr. Sousa,” disse a voz do outro lado, cortante e burocrática. “Precisamos que venha à escola imediatamente. Houve… um incidente relacionado com a honestidade do Tomás. Temos uma política de tolerância zero para mentiras patológicas no São Domingos.”

Mentiras?

O Tomás não mente. É péssimo a mentir. Nem consegue dizer-me que lavou os dentes sem fazer aquela careta de coelho.

“O que é que ele disse?” perguntei, a voz baixa, mas que ecoou como um trovão na sala silenciosa.

“Insiste em contar histórias fantásticas sobre a sua carreira à turma,” suspirou, com aquele tom condescendente típico de quem nunca saiu da zona de conforto. “A Dona Margarida está muito incomodada. Era o dia das apresentações da Semana das Profissões. O Tomás afirma que você é um General de quatro estrelas. Já lhe pedimos para parar de inventar contos de fadas para impressionar os colegas, mas ele insiste. Até gritou com a professora. Está a perturbar o ambiente de aprendizagem.”

Fiquei em silêncio.

Olhei para o meu peito.

Para as quatro estrelas prateadas nos ombros do meu uniforme.

Para as fileiras de condecorações que contam trinta anos de serviço ao país—Bósnia, Kosovo, Afeganistão, Iraque.

Para a medalha de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, no topo, que normalmente comanda respeito em qualquer sala do país.

“Entendo,” disse, a voz mais grave. “Então ele está em problemas por dizer que eu sou General?”

“Por mentir, Sr. Sousa. Pela audácia da mentira. Sabemos que… lares monoparentais podem ser difíceis, e talvez ele esteja à procura de uma figura paterna, mas não podemos ter a inventar vidas para mascarar a realidade. A Dona Margarida suspeita que você trabalha em… serviços de limpeza? Ou talvez seja motorista? Não há vergonha nisso, mas o Tomás tem de aceitar.”

A raiva que me percorreu não foi quente. Foi gelada. Zero absoluto.

“Não faça nada,” disse. “Estou a caminho.”

Desliguei.

Levantei-me. A sala de oficiais levantou-se comigo, instintivamente.

“Senhores,” disse, “o briefing está suspenso. Tenho uma situação para resolver.”

Não peguei no meu carro pessoal.

Olhei para o meu ajudante, o Capitão Lourenço, um homem que levantava pesos como se fossem palhinhas.

“Lourenço,” disse. “Chama a equipa. Todos. Vamos à escola.”

**Capítulo 2: A Viagem Longa**

A distância entre o Estado-Maior e os jardins bem cuidados do Colégio São Domingos, nos arredores de Lisboa, é de apenas vinte quilómetros, mas são dois mundos diferentes.

Um é betão, aço e o peso da segurança nacional. O outro é tijolo antigo, hera e o peso das aparências.

Sentei-me no banco de trás de um SUV blindado, a ver o comboio de viaturas abrir caminho no trânsito da A5. As luzes giravam, afastando o mar de carros.

As minhas mãos repousavam nos joelhos. Os meus nós dos dedos estavam brancos.

Sou viúvo. A minha mulher, a Catarina, faleceu há três anos de cancro. Desde então, sou só eu e o Tomás. Tentei protegê-lo do peso da minha patente. Não uso o uniforme em casa. Para ele, sou só “Pai”. Faço panquecas—mal. Ajudo com os trabalhos de matemática—mal.

Mas ele sabe o que eu faço. Sabe porque desapareço durante semanas. Sabe porque há homens com auriculares estacionados à porta de casa às vezes.

E ele tem orgulho disso.

E esta professora, esta Dona Margarida, estava a tirar-lhe isso. Estava a usar o orgulho dele como arma para o humilhar.

O Capitão Lourenço virou-se do banco da frente. “Senhor? Chegamos em cinco minutos. Quer que avisemos a escola? A PSP? Tecnicamente, isto é um deslocamento não oficial.”

“Não,” disse, a olhar para as árvores que passavam. “Sem aviso. Entramos a seco.”

Olhei para o meu reflexo no vidro escurecido.

Farda de gala.

Imitável. Afiada. O vinco das calças podia cortar vidro.

“Ela chamou-o mentiroso, Lourenço,” disse, quase para mim mesmo.

“Senhor?”

“Disse ao meu filho que estava a mentir sobre mim. Disse-lhe que inventava histórias porque não tinha uma figura paterna. Assumiu que, porque eu sou negro e ele é negro, eu devia ser o porteiro.”

O maxilar de Lourenço apertou-se. Era um operacional das Forças Especiais. Já viu coisas que encolheriam cabelos num instante. Mas parecia furioso.

“Isso é um erro, General. Um erro tático.”

“Grande,” concordei.

Parámos à porta do colégio. O segurança hesitou ao ver o comboio de três viaturas pretas com matrículas do Estado. Era uma escola onde deputados deixavam os filhos, mas um comboio do governo era raro.

O segurança saiu da cabine, a mão no cinto, hesitante.

Lourenço baixou o vidro e mostrou o crachá. Não disse uma palavra. Apenas apontou para a frente.

O portão abriu-se.

Subimos a longa entrada, passando pelas estátuas dos fundadores e pelos campos de futebol impecáveis. Parecia um postal da vida perfeita.

Mas, numa daquelas salas, o meu filho estava a ser humilhado.

As viaturas pararam em frente à entrada principal.

Não esperei que abrissem a porta. Saí.

As minhas botas bateram no chão com um som pesado e ritmado. Clac. Clac.

O vento agitou a bandeira no mastro do pátio. As cores nacionais.

Parei por um segundo a olhar para ela. Já sangreO Tomás olhou para mim com um sorriso que valia mais do que todas as estrelas do meu uniforme, e eu soube que, no fim das contas, a única batalha que realmente importava já estava ganha.

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