Paralisado no Aeroporto, Quando os Cães Policiais Cercaram Minha Filha, Descobri o Terrível Segredo do Seu Urso de Pelúcia6 min de lectura

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Era suposto ser o início de uma nova vida. É o cliché, não é? Fazer as malas, levar a filha e atravessar o país para recomeçar depois de um divórcio que nos deixou vazios e a contar tostões. Era isso que eu estava a fazer. Chamo-me Ricardo, e a minha filha, Inês, é o meu mundo inteiro. Ela tem seis anos, com caracóis louros desalinhados e um sorriso desdentado que derreteria o coração mais frio de Lisboa.

Estávamos no Aeroporto Humberto Delgado. Quem já lá esteve durante a época natalícia conhece a energia caótica que vibra pelo chão. Cheira a café requentado, cera e ansiedade. Estávamos exaustos. O voo para o Porto tinha sido adiado duas vezes, e já estávamos há quatro horas sentados perto do Portão B32.

Inês estava a ser corajosa, mas via o cansaço nos seus olhos. Agarrada ao urso de pelúcia velho que tinha desde bebé, o “Sr. Patas”. Mas mais cedo, enquanto eu comprava bolachas numa esplanada, uma senhora idosa — devia ter oitenta anos, parecia a avó de toda a gente — começou a conversar com a Inês. Sentiu pena de a ver tão cansada e deu-lhe um boneco novo. Era um unicórnio roxo brilhante. “Um guardião para as tuas viagens”, disse a velhinha com uma piscadela. Agradeci, pensando que era apenas um gesto de bondade numa cidade que raramente os tem. Inês chamou-lhe “Brilho” e meteu o Sr. Patas na mochila.

Finalmente, chamaram-nos para embarcar. Estávamos no Grupo 4. Peguei nas bagagens de mão, segurando a mão da Inês com força. Caminhámos para a porta de embarque.

Foi então que o ambiente mudou. Não foi um som, foi um sentimento. O ar ficou pesado, cortante.

Olhei para o lado e vi um agente da PSP com um pastor alemão da equipa cinotécnica. O cão, um animal lindo mas intimidante, parou de repente. As orelhas ficaram erectas, como antenas. Não estava a olhar para mim. Estava a olhar para a Inês.

“Vamos, Rex”, puxou o agente a trela.

O cão não se mexeu. Em vez disso, soltou um ganido baixo que senti no peito.

Depois, aconteceu.

Não foi só o Rex. Mais à frente, outro agente seguia com um malinois belga. O animal virou a cabeça de repente, ignorando o comando, e puxou na nossa direção.

“Pai?” A Inês apertou-me a mão. “Porque é que os cãezinhos estão a olhar para mim?”

Antes de responder, apareceu um terceiro cão. Depois um quarto. Era surreal, como uma cena de filme em câmara lenta. Os agentes gritavam ordens, os rádios crepitavam, mas os cães… os cães estavam possuídos por um único objetivo. Quebraram a formação.

Em trinta segundos, quinze cães policiais — pastores alemães, malinois, labradores — cercaram-nos.

Mas não atacaram. É isso que me assombra. Não ladraram nem morderam. Formaram um círculo perfeito em volta da minha filha. Sentaram-se. Quinze animais poderosos, imóveis, a olhar fixamente para ela, criando uma barreira entre ela e o resto do mundo.

O aeroporto emudeceu. Centenas de pessoas pararam. O silêncio era mais alto que os anúncios.

“Não se mexa!” Uma voz cortou o ar.

Olhei para cima. Um agente da PSP, ou talvez da Unidade Especial, apontava-me uma arma.

“Afastem-se da criança! AGORA!” gritou, a voz tensa.

“É a minha filha!” respondi, o pânico a apertar-me a garganta. “O que se passa? Afastem esses cães dela!”

“Senhor, afaste-se imediatamente ou vamos atirar!”

A Inês começou a chorar. Um som agudo que me partiu o coração. “Pai! Pai, estou com medo!”

Dei um passo na sua direção.

“EU DISSE PARA SE DEITAR!”

Dois agentes atiraram-me ao chão. Bati no piso de mármore, a cara contra o azulejo frio. Perdi o ar. Debati-me, tentando ver a Inês entre pernas e botas.

“Inês! Está tudo bem! O pai está aqui!” gritei, mesmo enquanto me algemavam com força.

Entre lágrimas e o zumbido nos ouvidos, vi o chefe da equipa cinotécnica aproximar-se do círculo. Não parecia zangado. Parecia… aterrorizado. Olhou para os cães, para a Inês, depois para o unicórnio roxo que ela apertava contra o peito.

Tocou no auscultador. “Código Vermelho. Repito, Código Vermelho no Portão B32. Evacuem o terminal. Agora.”

As sirenes começaram a soar. Luzes vermelhas iluminaram o rosto assustado da Inês. Os cães não pestanejaram. Ficaram ali, a protegê-la. Ou a proteger algo nela.

“O que é?” implorei ao agente que me imobilizava. “O que foi que ela fez?”

Ele baixou-se e sussurrou no meu ouvido: “Reze, meu filho. Reze para que esses cães não quebrem o comando. Porque se o fizerem, estamos todos mortos.”

[Continuação…]

O caos que se seguiu foi um borrão, mas a minha mente fixou-se numa imagem: Inês, pequena e trémula nas suas leggings cor-de-rosa, rodeada por uma muralha de pêlo e músculos.

Arrastaram-me. Literalmente. Esbracejei, gritei, lutei como nunca. “Ela tem seis anos! Não fez nada!” — até a garganta ficar em sangue.

Enfiram-me numa sala sem janelas, a cheirar a suor e lixívia. A porta fechou-se com um clique seco. Só uma mesa metálica, duas cadeiras e a luz fluorescente a piscar.

Minutos pareceram horas. Drogas? Alguém escondeu algo na mochila? Mas porque quinze cães? Cães farejadores alertam, mas não agem assim. Isto era diferente. Biológico. Ou químico.

A porta abriu. Entrou um homem de fato, com uma pasta. Parecia um burocrata que já vira demasiado.

“Chamo-me Agente Mendes”, disse, sentando-se. Não me tirou as algemas.

“Onde está a Inês?” exigi.

“Ela está segura”, respondeu, monótono. “Está numa unidade de descontaminação. Não foi atingida.”

“Inocente”, murmurei, a cabeça na mesa.

Mendes abriu a pasta. Mostrou-me uma foto da velhinha.

“Conhece esta mulher?”

“Não. Conhecemo-la hoje. Deu um brinquedo à Inês. O unicórnio roxo.”

Mendes assentiu. “Esse brinquedo está a ser desmontado por um robô da equipa antibombas.”

A sala girou. “Uma bomba?”

“Não é um explosivo convencional”, explicou. “Essa mulher é uma fantasma. Trafica substâncias indetectáveis. Isótopos, agentes nervosos.”

“Mas os cães…”

Mendes abrandou. “Os cães não farejaram a bomba. Farejaram a intenção. O material lá dentro reage com adrenalina.”

“Protegiam-na?”

“Se a Inês deixasse cair o unicórnio, ou o apertasse demais, a explosão arrasava o aeroporto. Os cães sentiram o perigo. Formaram uma barreira para absorver o impacto. Prontos a morrer por ela.”

Entre lágrimas, lembrei-me da postura deles. Imóveis. Fiéis.

“E a”E no fim, aprendi que o mal pode vir disfarçado de bondade, mas que a verdadeira coragem muitas vezes late, late e nunca nos abandona.”

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