Menino Doente Faz Barraquinha de Limonada e Surpresa Comove Motociclistas6 min de lectura

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O menino moribundo tinha uma banca de limonada vazia até que os motociclistas leram o que estava escrito por baixo de “50 cêntimos.”

Diogo, de sete anos, sentou-se atrás da sua mesinha dobrável por três horas sem um único cliente, a cabeça careca coberta por um boné amarelo, as mãos finas tremendo enquanto arrumava os copos vezes sem conta.

O bairro evitava-o há semanas, desde que se espalhou a notícia de que o seu cancro era terminal.

Observei da minha varanda enquanto carros abrandavam, viam-no e aceleravam de novo. Pais com filhos atravessavam a rua para não passar perto da sua banca.

Uma mãe chegou a cobrir os olhos do filho ao passar, como se o cancro fosse contagioso. Como se olhar para uma criança morrendo pudesse amaldiçoá-los.

Diogo não chorou. Ainda que o lábio inferior tremesse, ele permaneceu sentado, sorrindo, com a camisa amarela larga demais para o seu corpo frágil. O pote de vidro, vazio.

Então, o rugido começou. Baixo e profundo, como trovão ao longe. Diogo ergueu a cabeça. Quatro motociclistas em Harleys avançavam pela rua tranquila, os coletes de couro brilhando ao sol.

Os vizinhos puxaram os filhos para dentro. A Dona Margarida fechou a porta com força, como se fosse um ataque. Mas Diogo levantou-se. Pela primeira vez em horas, levantou-se.

O líder, um homem enorme com uma barba grisalha até ao peito, parou diante da banca. Tirou o capacete e viu. O recado pequeno, escrito à mão e colado sob o preço.

O rosto do motociclista mudou. Virou-se para os outros, disse algo que não ouvi, e os quatro desligaram as motos.

— Olá, pequeno guerreiro — disse o líder, aproximando-se. — Quanto custa um copo?

— Cinquenta cêntimos, senhor. Mas… — Diogo apontou para o bilhete.

O motociclista ajoelhou-se para ler. Os ombros começaram a tremer. Aquele homem assustador, com mais de cem quilos, chorava ao ler o que Diogo escrevera.

Dizia: “Não estou a vender limonada. Estou a vender memórias. A minha mãe precisa de dinheiro para o meu funeral, mas ela não sabe que eu sei. Por favor, ajudem-me a ajudá-la antes de eu morrer. – Diogo, 7 anos.”

O motociclista levantou-se devagar, puxou a carteira e colocou uma nota de cem euros no pote.

— Quero vinte copos, irmãozinho. Mas só vou beber um. Os outros são para os meus irmãos.

Diogo encheu-se de lágrimas. — O senhor não precisa—

— Preciso, sim. — A voz do homem era rouca. — Como te chamas, guerreiro?

— Diogo. Diogo Mendes.

— Eu sou o Lobo. Estes são os meus irmãos – Espadim, Gigante e Padre. Somos do Clube Motard Os Lobos. Todos veteranos. E reconhecemos um guerreiro quando vemos um.

— Foram soldados? — perguntou Diogo.

— Fuzileiros — corrigiu Lobo, suave. — E tu enfrentas uma batalha mais dura que qualquer uma das nossas. É corajoso o que estás a fazer.

Foi então que a mãe de Diogo, Inês, saiu a correr de casa.

— Diogo! O que estás a—? — Parou ao ver os motociclistas. O medo cruzou o rosto dela.

— Senhora — disse Lobo, tirando os óculos. — O seu filho é especial. Está aqui a tentar cuidar de si, mesmo estando… mesmo estando doente.

Inês desmanchou-se.

— Diogo, meu amor, tu não tens de te preocupar com dinheiro. Isso não é tua tarefa.

— Mas, mãe… ouvi-te a chorar ao telefone. Disseste à avó que não tinhas dinheiro para… para depois. Eu queria ajudar.

Vi Inês cair numa cadeira de jardim, soluçando. Lobo ajoelhou-se ao seu lado.

— Quanto tempo lhe resta?

— Seis semanas — sussurrou. — Talvez menos. Os tumores estão no cérebro. Os médicos disseram que não há mais nada a fazer.

Lobo levantou-se e pegou no telemóvel.

— Espadim, chama os irmãos. Todos. Há um guerreirinho que precisa de nós.

Em uma hora, quarenta e sete motociclistas encheram a rua. Cada um lia o bilhete de Diogo e colocava dinheiro no pote. Vinte euros, cem euros, até quinhentos de um veterano que não conseguia falar de tanto chorar.

Diogo tentava servir a limonada, mas as mãos tremiam. Lobo pegou no jarro.

— Deixa-me ajudar, irmãozinho. Tu orientas, eu sirvo.

— Porque são tão bons para mim? — perguntou Diogo.

Gigante, coberto de tatuagens militares, ajoelhou-se.

— Porque lembras-nos por que lutámos. Por miúdos como tu, que não deviam enfrentar batalhas tão grandes.

Padre, com uma cruz no colete, acrescentou:

— E porque cuidar uns dos outros é o que fazemos. Tu cuidas da tua mãe. Nós cuidamos de ti. Assim é que funciona.

Ficaram três horas. Beberam limonada. Contaram histórias. Deram-lhe emblemas dos coletes. Mas, mais importante, fizeram um plano.

Lobo chamou Inês.

— Vamos ajudar. O nosso clube tem um fundo para estas situações. Já levantámos dinheiro para as despesas médicas, mas não sabíamos… do outro custo.

— Não posso aceitar—

— Pode. E vai. Diogo quer ser homem, quer cuidar de si. Deixe-o ver que o esforço dele valeu a pena.

Nas cinco semanas seguintes, Os Lobos transformaram a banca de Diogo num evento. Aos sábados, apareciam com mais gente. Outros clubes. Veteranos. O pote foi substituído por um balde gigante.

A imprensa local noticiou: “Banca de Limonada de Menino Doente Arrecada Milhares com Motociclistas.”

Diogo enfraqueceu. Na quarta semana, não se aguentava em pé. Lobo fez-lhe uma cadeira especial. Na quinta, mal ficava acordado. Os motociclistas seguravam o guarda-sol, serviam a limonada enquanto ele dormitava.

No último sábado em que Diogo saiu, duzentos motociclistas encheram a rua. Colocavam dinheiro no balde e sussurravam: “Obrigado, guerreiro.”

Diogo juntou 42.760 euros. Dinheiro para o funeral, para a casa da mãe e para uma fundação para outras crianças com cancro.

Diogo morreu numa terça-feira, às quatro da manhã. Inês ligou a Lobo. Em duas horas, motociclistas chegaram. Fizeram uma guarda de honra. Ficaram horas à chuva, esperando para o levar.

No funeral, trezentos e quarenta e sete motociclistas vieram. Encheram o cemitério. Os motores rugiram quando o pequeno caixão desceu.

Lobo fez o elogio.

— Diogo Mendes tinha sete anos. Vendia limonada não por brinquedos, mas para cuidar da mãe. Em cinco semanas, mostrou mais coragem do que muitos em toda uma vida.

— Ele chamava-nos de amigos. Usava os nossos emblemas no pijama do hospital. Mas a verdade é que ele protegia a nós.

Depois do funeral, Os Lobos criaram o Fundo Diogo Mendes. Todos os anos, fazem bancas de limonada por todo o país. Já juntaram mais de 270 mil euros.

Inês ainda vive na mesma casaE, às vezes, quando o vento sopra suave na rua onde Diogo sorria, ainda se pode ouvir o eco distante de motores e o doce sabor de limonada no ar.

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