Rico Chega Mais Cedo e Leva um Susto com o Que Encontra6 min de lectura

Compartir:

O milionário chega mais cedo a casa e quase desmaia com o que vê. António Silva nunca se sentira tão perdido como nos últimos meses. O empresário de sucesso que dirigia uma das maiores construtoras de Lisboa descobriu que todo o seu dinheiro não valia de nada quando se tratava de curar o coração partido de uma menina de 3 anos.

Foi então que decidiu sair mais cedo de uma reunião com investidores japoneses. Algo dentro dele o empurrava para casa, uma sensação estranha que não conseguia explicar. Ao abrir a porta da cozinha da sua mansão em Cascais, António teve de se segurar no batente para não cair.

A sua filha Inês estava nos ombros da empregada, ambas a cantar uma canção infantil enquanto lavavam a loiça juntas. A menina ria de uma forma que ele não via há meses. “Agora esfrega bem aqui, princesa”, dizia Joana, a empregada, guiando as mãozinhas da criança. “Muito bem, és tão esperta!”, elogiava. “Tia Joaninha, posso fazer bolinhas com o sabão?”, perguntou Inês com uma voz cristalina que António pensara ter perdido para sempre.

O empresário sentiu as pernas tremerem. Desde que Carolina morrera num acidente de carro, Inês não dizia uma única palavra. Os melhores psicólogos infantis do país asseguravam que era normal, que a menina precisava de tempo para processar a perda. Mas ali, naquela cozinha, ela conversava naturalmente como se nada tivesse acontecido.

Joana notou a sua presença e quase deixou a menina escorregar dos ombros. “Senhor António, não o esperava tão cedo…”, começou a explicar, claramente nervosa. “Pai!”, gritou Inês, mas logo se encolheu como se tivesse feito algo errado. António saiu a correr para o escritório, fechando a porta atrás de si com um estrondo. As mãos tremiam enquanto servia um copo de vinho do Porto.

A cena que acabara de testemunhar perturbava-o de um modo que não compreendia. Como é que aquela jovem, em poucos meses, conseguira o que ele não conseguira? Como é que a sua própria filha falava com a empregada de um jeito que já não falava com ele?

No dia seguinte, António fingiu sair para o trabalho como sempre, mas estacionou o carro a algumas ruas de distância e voltou a pé. Precisava entender o que se passava na sua própria casa. Entrou pela parte de trás e subiu direto ao escritório, onde instalou rapidamente algumas câmaras pequenas que comprara pelo caminho.

Durante toda a semana, saía mais cedo do trabalho para ver as gravações. O que descobriu deixou-o ainda mais perturbado. Joana Ribeiro, de apenas 24 anos, transformava cada tarefa doméstica num jogo educativo. Conversava com Inês sobre tudo, desde as cores da roupa que dobavam até aos ingredientes da comida que preparavam.

“Olha, princesa, quantas cenouras temos aqui?”, perguntava Joana, cortando os legumes. “Uma, duas, três, cinco!”, respondia Inês, batendo palmas. “Muito bem! E sabes por que a cenoura é cor-de-laranja?” “Não sei, tia Joaninha.” “Porque tem uma vitamina especial que faz os nossos olhos ficarem fortes para ver tudo o que é bonito no mundo.”

António observava essas cenas com uma mistura de gratidão e ciúmes. Gratidão, porque a filha claramente estava a recuperar. Ciúmes, porque ele não sabia como criar aquela ligação que parecia tão natural entre as duas.

As gravações também revelaram algo que o inquietou. Dona Maria Gomes, a governanta que trabalhava em casa há 20 anos, observava Joana com desconfiança constante. A mulher de 62 anos, que ajudara a criar o próprio António, claramente desaprovava os métodos da empregada mais jovem.

“Joana, estás a ultrapassar os limites”, ouviu António dizer a Maria numa das gravações. “Não é o teu papel educar a menina. Foste contratada para limpar a casa.”

“Dona Maria, só estou a tentar ajudar”, respondeu Joana com voz suave mas firme. “A Inês é uma menina muito especial.”

“Especial ou não, não é da tua conta. Faz o teu trabalho e pronto.”

A tensão era palpável, mesmo através do ecrã do computador. António percebeu que havia dois mundos diferentes a chocar naquela casa, e ele estava no meio de uma guerra silenciosa que nem sabia existir.

Na quinta-feira dessa semana, recebeu uma chamada que mudaria tudo. Era a diretora do infantário onde Inês começara a frequentar recentemente. “Senhor António, tenho uma ótima notícia!”, disse a educadora Paula Fernandes. “A Inês finalmente começou a interagir com as outras crianças. Hoje brincou na casinha com outras meninas e contou histórias sobre como ajuda a tia Joana em casa.”

António deixou cair os papéis sobre a mesa. “Como assim, educadora?”

“Ela disse que está a aprender a cozinhar, a arrumar as coisas, que a tia Joana conta histórias sobre princesas que ajudam em casa. É impressionante como a menina mudou. Fizeram algum tratamento novo?”

“Não, não exatamente”, balbuciou António.

“Bem, seja o que for que estão a fazer, continuem. É um milagre ver a Inês assim.”

António cancelou todas as reuniões da tarde e correu para casa. Chegou exatamente no momento em que Dona Maria repreendia Joana no jardim. “Já te disse que não leves a menina sem a minha autorização!”, gritava a governanta. “Não tens nenhuma responsabilidade sobre ela!”

Inês agarrava-se às pernas de Joana, chorando. Era a primeira vez em meses que António ouvia a filha expressar sentimentos com tanta intensidade. “Não quero que a tia Joana vá embora!”, gritava a menina, soluçando.

“Inês, querida, ninguém vai embora”, dizia Joana, acariciando o cabelo da menina. “Calma, meu amor.”

“Não devias fazer promessas que não podes cumprir”, disse Dona Maria com dureza. “Senhor António, chegou a tempo de ver como esta rapariga está a manipular a sua filha.”

António ficou parado à porta do jardim, observando a cena. A sua filha estava a falar, a expressar sentimentos, a defender-se. Depois de meses de silêncio, finalmente estava a reagir ao mundo à sua volta.

“O que aconteceu aqui?”, perguntou, tentando manter a voz calma.

“Esta empregada levou a menina a colher flores sem pedir autorização”, respondeu Dona Maria imediatamente.

“E não é a primeira vez que age por conta própria.”

“Senhor António”, disse Joana, ainda segurando Inês. “A Inês perguntou sobre as flores do jardim e achei que seria educativo mostrar-lhe as diferenças. Não pensei que…”

“Não pensaste, não pensaste!”, interrompeu Dona Maria. “Não te pagam para pensar, rapariga. Pagam-te para obedecer.”

António olhou para a filha, ainda agarrada a Joana, e tomou uma decisão que surpreendeu a todos, incluindo a si mesmo.

“Dona Maria, pode deixar-nos a sós, por favor?”

A governanta sentiu-se visivelmente ofendida, mas obedeceu.

Quando ficaram sozinhos, António ajoelhou-se ao nível de Inês.

“Filha, estás bem?”

“Pai, a tia Joana ensinou-me que as rosas vermelhas significam amor”, disse Inês, os olhos ainda húmidos. “Como o amor que a mãe tinha por nós.”

O coração de António quase parou. Era a primeira vez que Inês mencionava a mãe desde o acidente.

“E o que mais a tia Joana te ensinou?”

“Que quando guardamos amor no coração, mesmo quando alguém parte, nunca estamos sozinhos porque o amor verdadeiro fica para sempre.”

Leave a Comment