Há muito tempo, num pequeno vilarejo no Alentejo, um homem deixou a esposa grávida com a sogra para cavar batatas enquanto ele foi descansar. Mas o que aconteceu naquele dia na horta deixou toda a vizinhança em estado de choque.
O marido sempre sonhara em conhecer o mar. Quando descobriram a gravidez da esposa e os médicos proibiram-na de viajar de avião, ela acreditou, ingenuamente, que ele ficaria ao seu lado. No entanto, certo dia, ele disse-lhe com frieza:
— Os bilhetes já estão comprados, seria um desperdício de dinheiro. Eu vou sozinho, e tu podes ir ajudar a minha mãe no campo.
A mulher, já no sexto mês de gestação, com dores nas costas a cada movimento, não ousou discutir. Ele partiu para o Algarve, e ela foi enviada para a casa da sogra — uma terra onde a água era gelada, a casa sem conforto, e o descanso vinha apenas entre as fileiras da horta.
Todas as manhãs, a sogra cozinhava uma sopa, colocava-a à frente da nora e dizia:
— Primeiro trabalhas, depois comes.
A grávida passava horas a fio de joelhos na terra, sob o sol quente. À noite, sonhava com o mar — não porque alguma vez o tivesse visto, mas porque era para lá que o marido tinha ido. Ele enviava fotos da praia, sempre com a mesma mensagem: “A descansar, como sugeriste.”
Naquele dia, enquanto cavava as batatas, tentou ligar-lhe. Ele não atendeu.
Mas o que se seguiu deixou os vizinhos em pânico.
De repente, a mulher sentiu a cabeça girar. Caiu de joelhos na terra, ofegante. A sogra saiu ao pátio, olhou para ela de cima e disse, secamente:
— Estás grávida, não doente. Levanta-te, as batatas não se colhem sozinhas.
Ela tentou erguer-se, mas o corpo já não respondia. Foi então que tudo aconteceu.
Uma vizinha, que passava pelo caminho, viu-a desmaiar, de rosto no chão. Gritou por ajuda, e rapidamente os outros acorreram. Carregaram-na nos braços até um carro e levaram-na ao hospital. Os médicos disseram o pior: mais um pouco, e a criança teria morrido.
Depois daquele dia, a casa da sogra ficou marcada. Os vizinhos nunca lhe perdoaram o que fizera àquela mulher. E quando o marido regressou, bronzeado e descansado, encontrou a esposa no hospital — com um olhar onde o amor já não existia.





