Hoje aconteceu algo que me fez perder a fé na humanidade, mas também me lembrou que ainda há esperança. Uns indivíduos cruéis tiveram uma ideia absurda — queriam gravar um vídeo “chocante” para as redes sociais, apenas para ganhar likes e visualizações, sem pensar nas consequências.
O plano deles era amarrar um animal e deixá-lo nos trilhos do comboio, à espera da locomotiva que passava ali todos os dias, pontualmente às 15h. A vítima? Uma linda lince-ibérica, com pelagem malhada e olhos dourados que brilhavam como o sol do Alentejo.
Amarram-na com cordas grossas, tão apertadas que ela mal podia respirar. Riam-se enquanto filmavam, certos de que o comboio não pararia a tempo. Sabiam que ali, na linha entre Évora e Beja, o Alfa Pendular nunca atrasava.
A lince sentiu o chão tremer, ouviu o som distante da máquina a aproximar-se e começou a debater-se desesperadamente. As garras arranhavam os dormentes, os olhos arregalados de pânico. Sabia que o tempo estava a acabar.
E então, lá adiante, o comboio surgiu no horizonte. Uma massa de aço avançava sem piedade, os faróis cortando o ar como facas. A lince lutava, mas as cordas não cediam. Parecia o fim.
Foi então que algo inesperado aconteceu.
Um jipe vermelho travou a fundo ao lado dos trilhos. Dele saltou um homem—forte, decidido, com uma faca na mão. Sem hesitar, correu para o animal.
A lince congelou, fitando-o com olhos cheios de terror. O homem, sabendo que cada segundo contava, cortou as cordas com movimentos firmes. A lâmina raspou, mas finalmente as amarras partiram-se.
O rugido do comboio já estava lá, os trilhos vibravam como um coração a disparar. E, no último instante, a lince libertou-se. Saltou como uma flecha, desaparecendo na mata do Parque Natural do Guadiana. O homem afastou-se a tempo—o comboio passou com um uivo de vento, deixando apenas poeira e alívio.
As redes sociais, onde aqueles cobardes queriam fama, voltaram-se contra eles. O vídeo que filmaram chegou à polícia, e o tribunal condenou-os por maus-tratos a animais.
Já o herói anónimo? O seu nome—Rui Mendes—apareceu nos jornais. Ambientalistas agradeceram-lhe, mas a maior recompensa foi saber que, algures na serra, uma lince respira livre por causa da sua coragem.
Hoje aprendi que há mal no mundo, mas também há quem lute contra ele. E, por vezes, basta um ato de bravura para equilibrar a balança.





