**Diário Pessoal**
Hoje, tudo parecia correr como planeado, exceto pela chuva torrencial que caía lá fora. Estava a caminho do Aeroporto de Lisboa para mais um voo quando avistei uma mulher debaixo da chuva, segurando uma criança pequena. Por um instante, pensei em ignorar e seguir em frente, mas a consciência pesou, e acabei por parar o carro.
— Olá, posso ajudar? Por que está aqui com este lindo bebé? — perguntei.
— Não tenho para onde ir — respondeu ela, com os olhos marejados. — O meu marido deixou-nos na rua, e não sei o que será de nós.
Sem hesitar, entreguei as chaves do meu apartamento ao motorista e pedi que os levasse para casa, garantindo que tivessem tudo o que precisassem até eu regressar. O motorista levou-os, e eu segui para o aeroporto.
Duas semanas depois, voltei de viagem e dirigi-me ao apartamento. Bati à porta, mas ninguém respondeu. A porta estava aberta, e entrei.
O que vi deixou-me sem palavras.
Parei à entrada, o coração acelerado. Na sala, estava uma mulher com uma criança, mas não eram os rostos que eu vira na chuva.
Brinquedos espalhavam-se pelo chão, o jantar estava pronto na mesa e, sobre o piano, havia um pequeno bilhete: “Obrigada pela sua bondade. Estamos em casa.”
Mas então, o meu olhar caiu num canto da sala. Lá, envolto num cobertor macio, estava outro menino, encolhido como um ouriço.
Era um desconhecido para mim, mas havia algo familiar nele — os olhos eram os mesmos do bebé daquela noite chuvosa, só que agora, parecia ter quase sete anos.
A mulher ergueu o olhar e sorriu, mas havia uma inquietação no seu rosto: “Ele encontrou-nos sozinho. Chamamos-lhe… o nosso milagre.”
Senti o corpo a relaxar, mas algo dentro de mim inquietava-se. Não era apenas gratidão — era um mistério, algo que guardava uma descoberta extraordinária.





